Em determinado momento de seu documentário biográfico, o ator e diretor Hugo Carvana diz que nunca se importou com linguagem cinematográfica. "Não faço cinema para revolucionar a linguagem. Faço cinema para contar histórias", disse o artista, falecido em 2014 e que é o tema do documentário Carvana, que abriu os trabalhos do festival É Tudo Verdade no Rio de Janeiro. E essa afirmação, sem dúvidas, também pode ser levada para o filme que o homenageia.
Carvana, afinal, não tem nada de novo. A diretora Lulu Corrêa faz um arroz com feijão: põe o Hugo Carvana na frente das câmeras e deixa ele falar à vontade sobre sua vida. Em cima dessa entrevista, a cineasta coloca um punhado de imagens de acervo e, principalmente, cenas de filmes do artista carioca -- seja como figurante, como ator ou, posteriormente, como diretor. É algo básico, ainda que bem pesquisado e editado, e que não traz inovações de estilo.
Isso acaba gerando um resultado dúbio em tela. Afinal, num primeiro momento, não há problema algum. Carvana é um personagem único do cinema brasileiro e uma figura muito divertida. Ouvir ele falar sobre si e sobre sua carreira traz algumas reflexões interessantes e amplia o potencial do documentário, tirando-o do marasmo que viria a ser com figuras menos profundas. O acervo também diverte, permitindo ao público relembrar antigas personalidades.
No entanto, há o lado ruim desse "único tom" que é adotado: não há dinamicidade. Por mais que Carvana seja interessantíssimo, faltam visões sobre sua carreira. É claro que essa não era a intenção de Lulu, que queria apenas deixar seu biografado falando em tela. Mas, para uma produção audiovisual, falta algo. Não há picos de entretenimento, não há momentos que chamam a atenção. É, como dito, um filme de um único tom, que vai se reverberando até o fim.
Infelizmente (ou felizmente, dependendo da visão), o filme, quando comparado, acaba por conversar com produções mais obscuras da carreira de Carvana, como Não se Preocupe, Nada Vai Dar Certo! ou, ainda A Casa da Mãe Joana. Afinal, por mais que Carvana dissesse que não, ele ajudou a moldar a linguagem do cinema nacional com clássicos como Vai Trabalhar, Vagabundo ou Bar Esperança. Seu documentário não inova em nada. Apenas diverte.
* Este filme foi assistido durante a cobertura especial do festival de documentários É Tudo Verdade 2018.
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