A ideia de Cano Serrado parece interessantíssima. Dois amigos policiais são pegos numa emboscada armada por colegas corruptos. Um deles (Paulo Miklos) morre na hora. Já o outro (Jonathan Haagensen) é capturado pelo Sargento Sebastião (Rubens Caribé) e alvo de tortura constante. A partir daí, começa uma corrida de gato e rato entre a polícia local e a do estado.
Dirigido por Erik de Castro (do assombroso Federal), o longa-metragem traça uma miríade de possibilidades interessantes no começo. Pode ser um faroeste moderno, uma releitura de histórias de vingança, um filme que mexe com expectativas. São vários os caminhos que Cano Serrado poderia seguir. No entanto, o roteiro segue pela via mais óbvia, chata e maniqueísta.
Com atores pouco à vontade em cena, o filme é um faroeste ultrapassado com personagens masculinos exalando masculinidade. Armas às mãos, tiros, violência, tortura. São clichês e estereótipos jogados na tela, sem qualquer tipo de aprofundamento ou originalidade. Até mesmo quando Erik tenta emplacar uma reviravolta, o resultado é apenas confortável. Nada inova.
Dá para fazer, aqui, um estudo completo de estereótipos já batidos. É o policial durão do interior, o delegado prestativo, o policial estranho, o esquentado, a esposa devota e muito preocupada.
Miklos, Haagensen e Caribé trabalham com o que podem. Tentam dar alguma profundidade ou até mesmo um pouco de complexidade à situação. Mas não dá. Para se ter uma ideia: durante uns vinte minutos, o longa-metragem fica apenas mostrando o personagem de Jonathan sendo continuamente torturado, enquanto a esposa fica preocupada. Nada mais. Nada mais avança.
Além disso, alguns grandes atores são desperdiçados em papéis absolutamente pequenos. Milhem Cortaz está ali para uma única virada. Silvia Lourenço é jogada aos estereótipos.
E como cereja do bolo, há uma breguice muito particular na edição. Cenas que não conversam, nem ao menos se completam, tentam dar um impacto e uma profundidade moral para uma história que não existe. Fica tudo no ar. E, assim, Cano Serrado corre o sério risco de ser um dos piores do ano. Não tem a agilidade de A Divisão, não tem a profundidade de Tropa de Elite 2.
E por fim, como se desgraça pouca fosse bobagem, Cano Serrado é conveniente com a violência. Não traz elementos que problematizem ou se aprofundem nos atos extremados de seus personagens. Não questiona a violência, nem mesmo a tortura. É apenas um vazio. Apenas um nada de mensagem, de questionamentos, de reflexões. É um filme vazio de qualquer coisa.
É, enfim, apenas um longa que tenta ser algo além de sua possibilidade. Um pouco mais de pé no chão e um roteiro mais coeso e inteligente poderiam tornar o filme minimamente aceitável.
OBS.: O 'Esquina' está fazendo a cobertura completa do 7º Festival Internacional de Cinema de Brasília (BIFF), que acontece totalmente online. Acompanhe-nos para mais atualizações.
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