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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Campo' é poesia visual de Tiago Hespanha


Assim como o filme Saudade examinou as origens dessa palavra tipicamente brasileira, o novo longa-metragem português Campo quer falar de tudo que envolve -- e está -- em um campo. Dos homens aos animais, dos insetos às plantas, da guerra ao cultivo de mel. Do que está e do que não está. Das ausências e das onipresenças. De seu significado mais oculto ao mais óbvio.


Dirigido brilhantemente por Tiago Hespanha (produtor de A Fábrica de Nada), Campo discute o ser e o não ser. A transcendência, a humanidade, a natureza. A partir de um campo de guerra em Portugal, tudo Tiago encontra e faz acontecer. A reflexão e o debate jorram de sua narrativa de maneira natural e poética, examinando os caminhos tortuosos da existência do nosso ser.


E como faz sentido a reflexão e a plasticidade de Hespanha nesse Campo. Nem um pouco óbvio, e totalmente consciente de suas decisões, o filme explora nossa consciência. Fala sobre sobrevivência, sobre a pequenez de nossos atos, sobre a grandiosidade do que a nossa vista alcança. A partir de algo exageradamente mundano e banal, o longa fala sobre tudo acima.

Aliás, deve-se ressaltar a beleza da produção de Campo. Música, fotografia e decisões criativas por parte de Hespanha constituem um quadro quase sublime -- como a Folha muito bem pontuou com Sérgio Alpendre. O visual, e todo o clima criado pelo cineasta, ajuda a alavancar a sensação de que Campo é um filme estranho, que não se encaixa em definições comuns.


Afinal, está sendo vendido como um documentário. Mas será mesmo? Mais do que retratar obviedades do campo, Hespanha aposta em algumas narrativas ficcionais para dar força ao que está sendo tratado ali. Nessa mistura, o longa-metragem acaba se aproximando mais de um ensaio poético e visual do que qualquer outra coisa. Rotulá-lo, felizmente, é muito difícil.


Os momentos mais fracos do filme, aliás, são quando o próprio Hespanha busca encontrar rótulos internos e narrativos. Entrevistas convencionais, feitas com pessoas olhando pra câmera e falando, quebram o ritmo poético e letárgico que tinha se instalado entre o público e o filme. Não precisava disso, dada a grandiosidade do que Tiago Hespanha tinha construído até então.


Mas tudo bem. Campo continua sendo um filme diferenciado. Foge do que estamos acostumados a ver nos cinemas, com um brilhantismo muito próprio. Infelizmente, pouquíssimas pessoas irão enfrentar e se encontrar nesses pouco mais de 90 minutos de projeção. Mas quem o fizer... Ah, quem o fizer irá encontrar um material belíssimo. Vale a pena.

 
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