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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Buscando...' ganha mais pontos pela forma do que pelo conteúdo


Nos últimos tempos, o cinema tem tentado levar a dinamicidade da internet e do mundo digital pra tela grande. O terror, por exemplo, tem insistido com vilões virtuais, como em Selfie para o Inferno e Medo Viral. Todos bombas. O único que deu certo foi Amizade Desfeita, uma inteligente saga de horror inteiramente passada na tela do Skype. Agora, esse formato começa a ganhar outras dimensões e gêneros. O primeiro é o suspense.

Buscando... conta a história de um David Kim (John Cho), um pai que precisa cuidar da filha Margot (Michelle La) após a morte prematura da mãe. No entanto, ele leva um grande susto quando a menina some após uma aparente noite de estudos. Pra onde ela foi? Ela fugiu? Foi sequestrada? Morta? O que fez com que Margot saísse cedo de casa?

Essas são as perguntas que norteiam o longa-metragem do estreante Aneesh Chaganty. E não há nada demais na trama: por mais interessante e por mais reviravoltas que ela possa trazer, não fica muito diferente do que já fizeram alguns filmes do Nicolas Cage (O Resgate, Fúria), do Liam Neeson (Busca Implacável) ou da Halle Berry (O Sequestro, Chamada de Emergência). O grande ponto alto aqui, então, é como contar a história.

Como já sublinhado, Chaganty opta por usar o mesmo formato de Amizade Desfeita e, ao invés de colocar uma câmera convencional para narrar visualmente a jornada do pai, tudo é visto pela óptica do computador. Diálogos acontecem pelo Facetime e por serviços de mensagens, buscas são feitas pelo Google e pelo Facebook e, a partir do que é digitado, é possível entender o que aquele personagem está sentindo, desejando..

Até mesmo quando há saídas difíceis, como mostrar a ida do pai para lugares externos, o diretor consegue encontrar meios criativos e críveis de mostrar aquela passagem -- é o vídeo que viraliza no YouTube, é a câmera de segurança com retransmissão para o notebook. É, sem dúvidas, uma construção extremamente real do ambiente virtual e que ajuda a dar o tom geral da história. Difícil não se identificar com algumas coisas.

Outro ponto interessante, e que ajuda nessa identificação, é que a Sony Pictures -- que faz a distribuição do longa-metragem -- não economizou esforços para facilitar o entendimento daquilo tudo. Ao invés de jogar toda a tradução para a legenda, foi feita a opção de traduzir toda a tela. Ou seja: quando o personagem entra no Facebook, no Google ou manda mensagens, o espectador vê aquilo na sua língua original. É muito bem feito.

Os atores são a cereja do bolo nesse processo todo. John Cho (Star Trek) está excepcional. Desesperado, perdido e sentindo a solidão chegar, seu personagem faz com que a história, batida, fique mais atraente e saia apenas do formato. Michelle La aparece pouco, mas convence, e Debra Messing (Will & Grace) consegue segurar as pontas quando a história exige mais de sua personagem. Boa escolha de elenco.

Assim, Buscando... não é um filme original no que concerne sua história, que já foi contada por outros grandes astros do cinema de ação e suspense e, de certa forma, no bom Confiar. No entanto, o formato disruptivo, o bom domínio do diretor sobre a situação e o elenco afiado ajuda a criar uma ótima experiência ao redor do longa. Que se façam mais filmes assim: ousados, inteligentes e bem executados. É o melhor do cinema.

 

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