Quando Jo Nesbo estourou no cenário da literatura policial, muitos ficaram de queixo caído com o potencial de suas histórias. Requinte de crueldade e tramas de suspense misturados com uma frieza nórdica dão o tom de seus livros, que encantam fãs e dão uma mostra da força da literatura nórdica. No entanto, que decepção é a primeira adaptação hollywoodiana do escritor.
Boneco de Neve, história encarregada de levar Nesbo ao grande público, tinha tudo pra ser um sucesso. No elenco, Michael Fassbender, Chloë Sevigny, J.K. Simmons, Rebecca Ferguson, Jonas Karlsson, Charlotte Gainsbourg, Toby Jones e até o irreconhecível Val Kilmer, muito afetado pelas plásticas. Na produção, Martin Scorsese. Mistura que tinha tudo pra dar certo.
Porém, o resultado na tela é tenebroso. Vamos aos diversos pontos que tornam esse filme um desastre. Primeiro, e mais evidente, é a falta de ritmo. Culpa do terrível diretor Tomas Alfredson. Muito dizem que ele faz filmes inteligentes, usando O Espião Que Sabia Demais como exemplo. Errado: ele não sabe organizar seus filmes e cria pérolas para pseudo-cults amarem.
Assim, temos em tela um filme sem união, sem um fio-condutor que prenda a narrativa e o espectador do começo ao fim. Há, apenas, cenas aleatórias e que não dão um sentido para a história, que acompanha Harry Hole (Fassbender) na busca de um assassino que mata as suas vítimas e deixa, como um presente, um boneco de neve virado para a casa onde esta pessoa morou.
Como é visto no livro, a trama é deliciosa e pode ser devorada numa bocada. Não no filme. Alfredson conseguiu estragar a história e criar um filme chato, prepotente. O gelo glacial da história não é usado à favor da narrativa audiovisual -- pelo contrário, o filme é frio e muito distante -- e a força da história vai se perdendo conforme o filme vai se arrastando e a trama ficando mais chata.
Pior: Harry Hole é um detetive-protagonista interessantíssimo. Como fã de Nesbo, já disse que considero Hole como um dos principais da ficção policial, junto com Poirot, Holmes e Maigret. No filme, Fassbender entrega uma atuação canastrona e decepciona, mostrando que está no pior de seus dias -- só não é pior que Assassin's Creed, ainda que seja um filme menos sério.
Outro ponto negativo é a falta de suspense. É um filme policial! Quer dar substância e mais elementos cults pro filme? Tudo bem. Mas não tire a tensão! Senão, não vai agradar. E é isso que acontece aqui. As cenas tensas do livro -- como a que Harry precisa decidir se abre a porta do carro -- foram limadas. A única que aterroriza é a limpeza do apartamento. E só isso.
O final, então, é desastroso do começo ao fim. A revelação do assassino não causa choque e tudo é feito de maneira banal -- compare com grandes revelações do cinema, como em Seven ou Janela Indiscreta. Faltou o elemento de surpresa, que faz o público arfar e até cochichar com o colega ao lado. Erro, de novo, de Alfredson, que mudou o final da história original.
Com isso tudo, Boneco de Neve é a grande decepção do ano e, sem dúvidas, vai entrar de cabeça na lista de piores filmes de 2017. Culpa do comando tenebroso do cineasta, que tirou a magia da história original e criou uma verdadeira salada sem unidade ou sentido. É ruim, é pretensioso, é um verdadeira bomba cinematográfica. Agora, é torcer pra Nesbo ser, enfim, bem tratado no cinema.
Comments