Nancy Stokes (Emma Thompson) é uma mulher que, já na terceira idade, não sabe dizer como é a sensação de um orgasmo. Apesar de ter sido casada durante décadas, o sexo era apenas algo burocrático que acontecia em sua rotina, com o marido se recusando a certas coisas, apesar do desejo da personagem. Até que, após a morte do marido, ela toma uma decisão: ter uma relação com Leo Grande (Daryl McCormack), um garoto de programa que contrata para um encontro.
Essa é a trama inicial de Boa Sorte, Leo Grande, estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 28. Com toda a cara de filme gravado durante a pandemia e com inspiração nos teatros, já que quase todas as sequências se passam em um quarto de hotel, o longa-metragem tem um foco muito específico: falar sobre sexualidade. Ainda que a questão do sexo na terceira idade seja o fio condutor e o brilho do filme, há toda uma reflexão sobre a imagem social e as reflexões do sexo.
Nesse ponto, vale dizer que o roteiro de Katy Brand (Under One Roof) perde muitos pontos. Apesar de funcionar brilhantemente quando trata do tabu na terceira idade, a história derrapa na hora de extrapolar o tema. Tudo que se espera de um filme sobre uma mulher mais velha conversando com um garoto de programa mais jovem estão aqui: conflitos de gerações, questões familiares, a forma de encarar o sexo, as diferentes percepções entre personagens...
Brand, sob a direção de Sophie Hyde (Animals), parece abrir um livrinho que mostra quais são os pontos necessários a serem tratados nessa dinâmica e cumpre com todos eles. O filme, repentinamente, fica chato, até mesmo enfadonho, já que a originalidade da temática inicial se perde em reflexões que já vimos por aí. Boa Sorte, Léo Grande seria muito mais poderoso e intenso se conseguisse se aprofundar na questão central, sem se alargar para outros terrenos.
Ainda assim, vale dizer, o longa-metragem ganha muito fôlego quando fala sobre o que tem que falar. E também acaba se tornando interessante pelas atuações certeiras de Thompson (Harry Potter e o Prisioneiro de Azkabam) e McCormack (A Roda do Tempo). Os dois estão complexos em seus papéis, transitando entre a segurança e a insegurança natural da situação em que ambos estão -- Léo Grande, aliás, é ainda mais complexo pelo fingimento de que sabe tudo.
Outro acerto, esse vindo do complicado roteiro, vem da estrutura da narrativa. Há uma boa sacada aqui em dividir a história, e o desenvolvimento desses dois personagens, por meio de três encontros distintos, em três tempos diferentes. Isso apenas evidencia ainda mais as transformações, colocando complexidade no filme. Uma pena que a roteirista não tenha tido essa força criativa ao longo de toda a produção. Isso, junto ao tema inicial, são bons acertos.
E a última cena do longa-metragem é belíssima. Com muita coragem, Sophie Hyde e Emma Thompson mostram uma personagem transformada, em um momento completamente diferente de quando começou o filme, e que apenas comprova a importância de trazer esse assunto à tela. Boa Sorte, Leo Grande poderia (e até deveria) ser melhor do que realmente é. Menos enfadonho, mais dinâmico. Ainda assim, vale a pena pela boa reflexão que traz.
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