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Bárbara Zago

Crítica: 'Blue My Mind' é retrato hostil e fantasioso da adolescência


Exibido pela primeira vez no Brasil durante a 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o longa suíço Blue My Mind explora a adolescência na sua forma mais crua, num período de insistente busca pela identidade, ao mesmo tempo em que ilustra essa transição de maneira fantasiosa. A partir de drogas, confrontos familiares e decisões quase sempre impulsivas, o filme dirigido pela estreante Lisa Bruhlmann conta uma história interessante, mas que se perde na tentativa de integrar o simbólico com o literal.

O filme conta a história de Mia (Luna Wedler), uma adolescente de 15 anos, que encontra-se em uma fase de transformações, tanto internas quanto externas, ainda que a trama aborde estas últimas de maneira bem mais explícita. Quando muda-se de cidade, é obrigada a recomeçar sua vida social, um dos aspectos mais conturbados na adolescência. Faz de tudo para ter aprovação do grupo popular, mesmo que precise violar seus princípios: consome uma quantidade enorme de drogas, furta coisas em lojas, transa com garotos que não tem interesse. Tudo pela aprovação. Ainda que essa realidade seja mostrada de forma quase que violenta no filme, consegue deixar nítido como ser aceito pelos outros é uma das prioridades nessa idade.

Juntamente com Luna Wedler, atua também Zoe Pastelle Holthuizen, interpretando Gianna, a líder do grupo. Embora ambas tenham realizado um ótimo trabalho, ficou pouco convincente a amizade entre elas. Inclusive, passou-me uma impressão mais de atração física entre as duas do que uma amizade propriamente dita. De qualquer forma, isso faz com que o filme perca força, pois aposta bastante nesse laço afetivo e, consequentemente, a importância da amizade nesse período.

A história assume uma postura dramática até, pelo menos, a metade do filme. Os detalhes fantasiosos não passam de mero detalhes, o que os fazem ser entendidos facilmente como realidade. A constante confusão de Mia é bem retratada tanto em sua atuação quanto no próprio modo que o filme foi conduzido. O título Blue My Mind, que ainda não possui tradução, trata a palavra "blue" (azul, no português) como um verbo, e isso não deixa de ser proposital. A fotografia do filme, elogiável por sinal, faz questão de utilizar tons azulados durante todo o tempo. E a cor escolhida tenta representar justamente esse mar de ideias, em que não existe um olhar crítico ou julgador.

"O azul é a mais profunda das cores: nele, o olhar mergulha sem encontrar qualquer obstáculo, perdendo-se até o infinito, como diante de uma perpétua fuga da cor. Imaterial em si mesmo, o azul desmaterializa tudo aquilo que dele se impregna. É o caminho do infinito, onde o real se transforma em imaginário."

A fantasia deixa de ser um aspecto interessante para o filme quando se confunde, de maneira mal executada, com a realidade. A transformação externa de Mia, que acontece exatamente após ter sua primeira menstruação, perde força no contexto do filme a partir do momento em que começa a apresentá-la como uma aberração. A ideia de uma mudança interna refletir em uma externa é bem pensada, mas acaba pecando quando se configura como sobrenatural. Enquanto o filme mostra de forma sutil no que Mia está se tornando, seja pela junção dos dedos dos pés ou pela vontade incontrolável de comer peixes vivos, consegue prender atenção do espectador e até "enganar" aquele que está mais desatento.

Blue My Mind é um bom drama, apesar de alguns erros. Acerta na direção de arte e em grande parte do drama, ainda que deixe algumas questões em aberto. Retrata a adolescência de maneira bruta, ao mesmo tempo que não tira o pé da realidade. Consegue ser também uma boa fantasia, afinal, vai dando pistas ao longo do longa no personagem místico que Mia vai se transformando. Mas não é uma boa composição de drama e fantasia. A partir do momento que a transformação simbólica é concretizada e torna-se literal, não tem como voltar atrás.

* Visto em outubro de 2017, durante a cobertura especial da 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

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