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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: ‘Blade Runner 2049’ resgata espírito de filme original

Atualizado: 11 de jan. de 2022


É muito difícil fazer sequências de filmes clássicos. Afinal, para justificar a continuação, seu idealizador precisa fazer uma obra à altura -- coisa que não aconteceu com Matrix e o mais recente Indiana Jones, apenas para citar dois exemplos. Por isso, foi inevitável sentir medo quando a sequência de Blade Runner foi anunciada. O filme de 1982 é clássico inesgotável, uma história que se tornou um divisor de águas para a ficção científica. Para o cinema. Mas que alívio foi Blade Runner 2049.

O filme é impecável em todos seus aspectos. Direção, roteiro, atuações, fotografia, palheta de cores, efeitos visuais. A trama não deixa de reverenciar o clássico, mas também recorre à novos assuntos que surgiram nessas três décadas de evolução tecnológica -- como é o caso de relacionamento amorosos virtuais, esbarrando em Ela. Aqui, porém, não iremos nos aprofundar muito sobre a trama,. Falaremos só o necessário. O ideal é saboreá-la sem saber o que vem pela frente.

Mas vamos começar os elogios e a esmiuçar as qualidades da produção. O primeiro acerto são as atuações. Ryan Gosling é K, um blade runner que precisa caçar replicantes antigos e que não são tão obedientes quanto os novos. Para isso, ele faz um tipo mas contido, mas conta com bons momentos de explosão e consegue criar um bom personagem para dar linhagem à Harrison Ford. O veterano aparece pouco, mas rouba a cena com bom humor e momentos emocionantes.

De resto, vale destacar a boa participação da cubana Ana de Armas (Mãos de Pedra), que consegue dar um tom distópico à sua personagem virtual Joi. Há uma inocência misturada com provocação sexual que funciona muito bem em sua personagem. Dave Bautista (o Drax, de Guardiões da Galáxia) e Robin Wright (House of Cards) contam com uma grande força cênica, enquanto Jared Leto (Esquadrão Suicida) não consegue mostrar ao que veio. Estou perdendo a fé no cantor/ator.

Sem dúvidas, as boas atuações não serviriam de nada na retomada de um grande clássico se não fosse a direção e o roteiro, extremamente alinhados com o tradicional, mas com um olhar de renovação interessante. Villeneuve coloca mais um tijolo na consolidação de sua carreira. A atmosfera do filme continua enevoada, mas com tons mais amarelados -- dando destaque à decadência global. O clima, porém, fica mais claustrofóbico do que nunca, por conta da verticalização do ambiente.

O cineasta também consegue trabalhar em perfeita harmonia com o roteiro de Hampton Fancher (do Blade Runner original) e Michael Green (de Logan). Enquanto Villeneuve deixa silêncios e momentos de contemplação na telona, a inspirada dupla de escritores cria uma trama intrincada e que obriga o espectador a usar os silêncios para refletir sobre a trama. É quase uma obrigação de quem assiste o filme, transformando a história numa conversa com a audiência.

Pena, porém, que alguns diálogos são expositivos demais -- há uma conversa entre Wright e Gosling que tira todos os significados que estavam sendo explorados nas entrelinhas. Um pouco mais de cuidado e discrição nessas sequências teria deixado o longa-metragem bem mais interessante. Ainda assim, obviamente, o resultado final é surpreendente e o filme faz um bom trabalho em acompanhar o ritmo, clima e relevância do longa-metragem de 1982, de Ridley Scott.

Mas claro: ainda é muito cedo para afirmar que Blade Runner 2049 é um novo clássico ou mais um divisor de águas da ficção científica -- indo contrário à maré de opiniões, acho que A Chegada tem bem mais importância para o gênero do que este novo longa de Villeneuve. E afinal, fazendo jus ao original, devemos esperar mais alguns anos para o público e a crítica se decidirem. Por enquanto, só ficamos com a certeza que temos mais um grande filme na conta de 2017.

EXCELENTE

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