A série Black Mirror não só fez sucesso, como também se tornou sinônimo de coisas tecnológicas que tomam um rumo bizarro na área social e antropológica. Por isso, cada nova temporada na Netflix desperta interesse genuíno por parte dos espectadores. Quais as maluquices distópicas que Charlie Brooker, criador da série, vai trazes nesses novos episódios? Quais outras ideias e situações irão despertar angústia, preocupação, desespero? É sempre uma ansiedade divertida que chega em doses homeopáticas.
Mas, infelizmente, Black Mirror chega fraca na sua quinta temporada. Voltando a ter três episódios, ao contrário dos seis adotados nas duas temporadas anteriores, a produção apresenta histórias genéricas, pouco impactantes e que dão mostras de que a série está entrando num deserto de ideias criativas. Afinal, a quarta temporada já foi decepcionante e muitos fãs estavam preocupados com o rumo que a série poderia tomar. Agora, essa preocupação se tornou real com episódios bem abaixo da média.
Abaixo, confira a opinião do Esquina sobre cada um dos três novos episódios da série:
Striking Vipers
Este é o que tem a melhor ideia, mas o desenrolar e a execução mais preguiçosos. Nele, dois amigos dos tempos de faculdade começam a jogar um game de realidade virtual no qual encarnam personagens de um jogo de luta. No entanto, mais do que luta, eles encontram nesse lugar um espaço para fluir desejos e sentimentos. A ideia é boa, claro. Mas a maneira como é desenvolvida acaba resvalando na temática de outros dois episódios da série -- que não serão citados aqui por conta de spoilers. Fica uma sensação de um filme que já foi visto antes. E, além disso, o episódio se prolonga mais do que aguenta. Só a paisagem de São Paulo pra conseguir aliviar essa sensação aqui.
Smithereens
Este, enquanto isso, vai num sentido contrário. A ideia é fraca, mas a execução é louvável. A trama acompanha um motorista por app que está sempre por perto da sede da Smithereens, empresa de redes sociais que, por algum motivo, possui influência na vida do protagonista. Aqui, não dá para dar tantos detalhes da trama por conta de spoilers que estragam a experiência. Mas o fato é que Smithereens acerta com um bom desenvolvimento de personagens e excelentes questionamentos sobre estruturas de empresas modernas, relações humanas e vício em redes sociais. Um verdadeiro tapa na cara com ótimas atuações de Andrew Scott (Sherlock) e Topher Grace (Superação).
Rachel, Jack and Ashley Too
Um dos piores episódios da história de Black Mirror. Quiçá, o pior. Aqui, uma adolescente solitária acaba depositando sua sede por amizades numa cantora de sucesso. A dependência fica ainda maior, porém, quando a celebridade lança um robô, baseado em inteligência artificial, que reproduz falas, pensamentos e modo de agir da cantora. É a deixa para ser criada uma relação pouco saudável entre a jovem e a robô. A ideia é interessante, apesar de também já ter sido tratada em episódios como Be Right Back. O problema é a maneira idiota que ela se desenrola, parecendo um filme da Sessão da Tarde. Nem o esforço de Angourie Rice (Todo Dia) como a jovem compensa o fiasco. E Miley Cyrus, que canta melhor do que atua, não ajuda a resolver essa situação toda.
Conclusão
É a pior temporada de Black Mirror. Um episódio regular, outro ótimo e um péssimo compõem essa quinta temporada que mostra como é necessário dar um tempo maior entre as produções. Ou, então, descentralizar um pouco o processo criativo de Charlie Brooker. Desde a temporada passada não se vê mais episódios como The Entire History of You, White Bear, White Christmas, Shut Up and Dance, Nosedive. As coisas estão se tornando cada vez mais plastificadas e pouco ousadas. Falta aquela sensação de chegar ao final de algum episódio e soltar aquele sonoro: uau, isso é muito Black Mirror. Parece que a série seria mais feliz se tivesse inspirações diretas na vida de seus espectadores.
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