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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Benedetta' é filme ousado e provocativo de Paul Verhoeven


Não há dúvida alguma de que Paul Verhoeven é um cineasta que não fica confortável se não chocar. Foi assim desde RoboCop, passando por Showgirls e até chegando em produções mais recentes, como Elle. Por isso, não é surpresa alguma que o holandês chegue até o ponto visto em Benedetta, longa-metragem laureado em festivais e que chega aos cinemas nesta quinta, 13.


Em uma história baseada em fatos, o filme acompanha a história de Benedetta (Virginie Efira), uma freira que começa a ter visões perturbadoras que misturam cenas religiosas com potência sexual inesperada. Obviamente, conforme essas visões aumentam, a vida da freira começa a ficar bagunçada. Sua vida no convento entra em conflito. A sexualidade passa a ficar aflorada.


Verhoeven se afasta de realizadores que já falaram sobre a idade média, como Ridley Scott (O Último Duelo) ou até Jean-Jacques Annaud (O Nome da Rosa), e faz tudo do seu jeito. O filme mistura uma dose de crítica ao conservadorismo com uma sátira do que essas conservadores pensam sobre mulheres lésbicas -- há absurdos que entram na trama de forma provocativa.


Benedetta transita entre um romance proibido, os sonhos que surgem de supetão com essas atitudes que abraçam o ridículo. Benedetta tem uma cena, que provavelmente vai entrar para a iconografia do cinema, que envolve uma cruz e um dildo. É absurdo, grotesco. É a imagem que um conservador qualquer, que acredita no "kit gay", vai pensar ao saber dessa história medieval.


Efira (Elle, Sibyl), felizmente, sabe acompanhar essas modulações de Verhoeven e entrega uma personagem deveras complexa. Sabe dar um ar demoníaco quando preciso, mas também traz a confusão completa que está passando por sua cabeça. Charlotte Rampling e Daphne Patakia também fazem boas contraposições ao que Efira apresenta em cena, amplificando a história.


Só fica um porém, ao final: até que ponto a mensagem de Verhoeven é efetiva? A mistura da trama que contesta junto com a sátira acaba criando uma trama que, mais do que inchada, fica um pouco confusa de seu tom e sua mensagem. O que Benedetta quer realmente contar e, além disso, como quer contar? Eu, hoje, ainda não consegui compreender qual é a ideia do diretor.


Não que Benedetta precisasse ser didático ou constante. Nada disso -- a provocação de Verhoeven funciona. Mas, sem coesão, fica difícil de passar o filme adianta e, principalmente, sair da bolha. Quem tem uma visão enviesada, talvez, se torne ainda mais enviesado e não perceba o ridículo de tudo. Talvez seja a falha histórica do diretor de novo: falta de sutileza.

 

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