Poucos filmes recentes me causaram uma sensação de mergulho tão profunda quanto Beauty, longa-metragem da Netflix que chegou ao catálogo nesta quarta-feira, 29. Bem dirigido pelo talentoso Andrew Dosunmu (Where Is Kyra?, Mother of George), o filme tem uma ambientação impecável, com essa casa do século passado se tornando uma personagem que acolhe a família de Beauty (Gracie Marie Bradley), a jovem moldada pelos pais para ser uma estrela da música.
No entanto, como sempre, o caminho não é fácil e muitas coisas acontecem ao redor da personagem. O pai (Giancarlo Esposito) tem um comportamento constante de abuso emocional, a mãe (Niecy Nash) espelha suas frustrações na personagem-título e há uma relação homoafetiva entre Beauty e Jasmine (Aleyse Shannon) que é alvo constante de ataques por parte da família e de terceiro. São várias as emoções, e acontecimentos, nessa história.
É um filme livremente inspirado no início da carreira da cantora Whitney Houston e que, mesmo com várias liberdades criativas, acaba sendo bem identificável pelos fãs da cantora americana.
Só que enquanto a ambientação é certeira, assim como as atuações são acima da média, Beauty conta com uma história morna. Monótona. Com roteiro escrito por Lena Waithe (Master of None), a trama do longa-metragem da Netflix se torna paulatinamente chato apesar de todos esses pontos positivos que falamos. Não acontece, não avança. Lembra bastante Se a Rua Beale Falasse em termos estéticos e narrativos: tudo é muito parado mesmo com tanto acontecendo.
É um sentimento de frustração que vai crescendo e tomando conta da experiência. Nem a presença magnética de Esposito (Breaking Bad) e da própria estreante Gracie Marie ajudam a evitar essa complicação. Apesar da força de seus personagens, eles são engolidos por essa monotonia. Uma pena, já que há tanta presença dos atores em cena -- se o filme fosse melhorzinho, daria até para arriscar presença no Oscar, mas com esse resultado não tem como.
Beauty, assim, é um longa-metragem de potencial, com histórias, estética e atuações de potência, mas que são soterradas por um ritmo exageradamente lento e uma narrativa que simplesmente não acontece. Se houvesse um pouco mais de vigor na forma que ela é contada, o longa-metragem certamente seria muito mais aproveitável e memorável. No entanto, do jeito que ficou, morreu na praia. É um filme pra assistir, mergulhar na ambientação e ir embora.
Concordo completamente, parece que houve medo de explorar a história com paixão!