Se você assistir ao longa-metragem nacional Baronesa sem nenhuma informação, vai ter uma surpresa ao saber que ele nasceu como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da cineasta Juliana Antunes, que faz sua estreia nas telonas. Mais ainda, vai se surpreender ao saber que o filme teve um orçamento de apenas R$ 50 mil e que sua ideia inicial nem era ir para as salas de cinema e, muito menos, chegar a concorrer e ganhar algum grande festival nacional.
Mas o longa-metragem já está rompendo todas suas possíveis barreiras. E merecido! Afinal, é muito bom. Integrante da fronteira entre ficção e documentário, Baronesa acompanha a história de duas mulheres. A primeira é Andreia, manicure de Vila Mariquinhas, na região de Belo Horizonte, que sonha em juntar seu dinheiro para ir morar na favela da Baronesa. Já a outra é Leidiane, uma mulher que luta para conquistar seu espaço e cuidar de seus filhos sem sofrimento.
O filme, ainda que trate de um assunto recorrente no cinema nacional, é inédito por conta de seu prisma. Ao contrário de Cidade de Deus, Alemão, Última Parada 174 ou Tropa de Elite, a cineasta resolveu falar da realidade da periferia e das favelas pelo olhar da mulher. Não é à toa que todo o filme é feito por mulheres -- indo desde a diretora, passando pelas principais personagens e indo até o roteiro e a direção de fotografia. É a favela das mulheres sob o olhar delas.
Isso acaba trazendo particularidades muito interessantes à narrativa. Temas pouco tocados nesse gênero, como masturbação feminina, cuidados pessoas após casamento e posições sexuais vão de encontro com a violência da favela. A câmera de Juliana passeia pelo local de maneira natural, deixando dúvidas sobre o que é real e o que é ficção -- ajuda também do ótimo elenco, que consegue se portar de maneira extremamente relaxada em frente às câmeras.
Além disso, a boa montagem do filme faz com que a história flua de maneira natural, sem aparentes intervenções. Andreia faz a unha, fala com os filhos, sonha em ir para o morro da Baronesa, teme a violência, conversa com o amigo, fica sentada na soleira da porta. São coisas banais, costuradas com momentos de poesia e de tensão, que dão força à trama -- além de tratar as personagens femininas de forma forte e independente, sem ligações com figuras masculinas.
No final, só fica a sensação que o filme poderia ter mais. Ainda que termine no ponto certo -- e tenha uma cena extremamente tensa em seus minutos finais --, parece que 73 minutos não é o bastante para todo o material que Juliana tinha em mãos. Baronesa -- que também merece elogios pela criatividade do título -- é um exemplo que o cinema independente tem de ser incentivado para ganhar mais visibilidade. Agora, é fica de olho em novos trabalhos de Juliana. É promessa.
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