Wallace Souza começou como repórter policial e investigativo em Manaus. Andava pelos lugares mais perigosos, sem medo do perigo, para confrontar criminosos, líderes de facções, traficantes. Enfrentava mesmo. Até que sua popularidade explodiu e ele virou um dos mais populares apresentadores de TV da região, com o programa Canal Livre. Ao estilo Ratinho, ele trazia casos da vida real, da "vida cão", para apresentar ao grande público e, de alguma maneira, dar uma solução. Isso sem falar dos crimes que apareciam na TV, sem pudor, mostrando corpos ensaguentados e até carbonizados.
E que surpresa quando Wallace, então deputado conservador e que lutava contra o crime e pelos bons costumes, se vê em meio a um escândalo. E não era qualquer desvio de dinheiro, não. Ele, na verdade, era líder criminoso. Pior: ele mandava executar crimes na região e depois, sem a menor vergonha, os exibia na televisão como se fossem furos jornalístico. O melhor de todos os mundos para ele, afinal. Matava quem estava enchendo o saco e ainda aumentava a audiência. Um circo violento. Esta história agora está registrada na série Bandidos na TV, que ganhou sua primeira temporada na Netflix.
A produção é dividida em sete episódios, com cerca de 50 minutos cada. É longa. E não precisava de tanto. Quatro episódios resolviam, sem problemas, a história completa de Wallace, da sua família e de todos os outros envolvidos. Mas, mesmo tendo esse problema recorrente em produções originais da Netflix, Bandidos na TV é uma grata e agradável surpresa. A série investe na boa fotografia e na boa recriação de cenas para criar toda uma ambientação ao redor do espectador. A pessoa se sente confusa, preso no caso dessa narrativa, e que mostra um pouco da dura realidade de cidades do País.
Wallace, como nunca antes, é destrinchado na tela. Cada aspecto da investigação é escancarado, sem meias palavras, usando provas, relatos, evidências. Um trabalho de primeira feito pelo serviço de streaming e pela produtora responsável. Além disso, como já foi feito na série O Desaparecimento de Madeleine McCann, não é colocado um ponto final em tudo. Há, também, elementos que contradizem, que trazem pontas de dúvida, supostas provas contrárias. É, enfim, um trabalho jornalístico. Ouve todos os lados.
Por fim, há de se ressaltar o bom trabalho de roteiro, que cria reviravoltas fantásticas -- ampliando ainda mais o aspecto inusitado do caso -- e até mesmo o divertimento sádico que surge aos poucos. Muita burrice foi cometida ao longo do processo, muitos passos em falso, muitas palavras não-ditas. É interessante analisar, ao longo de uma série com começo, meio e fim, como esses acontecimentos foram influência no seu trágico final.
Bandidos na TV mostra, mais uma vez, como a Netflix se sai bem na produção de séries e filmes documentais. Apesar de novamente errar na duração, o serviço de streaming entrega uma produção muito bem feita, explorando fotografia, trilha sonora e boas entrevistas para deixar o espectador com os olhos grudados na sequência de acontecimentos. Vale a pena assistir para se surpreender e saber melhor sobre esse caso que, sem dúvida, entra para os anais da bizarra história da televisão brasileira.
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