Chega a ser impressionante como Baghead: A Bruxa dos Mortos, estreia desta quinta, 8, não tem um único conceito que seja de fato original. Dirigido por Alberto Corredor (que comandou, em 2017, o curta que inspirou este filme), o longa-metragem conta uma história com uma ideia interessante: uma jovem herda uma casa que traz, com ela, uma bruxa morando no porão.
Pode parecer tosco de início, principalmente na mistura de bruxa com porões, alguns dos recursos mais básicos e preguiçosos do cinema de terror, mas é uma ideia que convence. Afinal, mais do que ser uma bruxa vagando por ali e dando sustos no escuro, o filme fala sobre uma criatura que permite que as pessoas vivas se comuniquem com as mortas.
Isso cria um novo mundo de oportunidades para Iris (Freya Allan), essa jovem que herdou a casa, mas não tem um tostão no bolso. Ela faz algo que o pai, morto tentando enfrentar a bruxa, não queria mais fazer: vender o tempo da bruxa para pessoas que querem se comunicar com entes mortos. No entanto, obviamente, a bruxa cobra um preço por isso.
Ou seja: é a mesma trama de Fale Comigo, um dos maiores sucessos do ano passado. Ambos os filmes falam sobre personagens que acabam se comprometendo demais com um artefato maldito (aqui, a bruxa; no outro, uma estátua amaldiçoada), justamente para se comunicarem com os mortos, e recaindo maldições inesperadas em suas protagonistas.
Freya Allan, a protagonista de Baghead, acaba não tendo o mesmo apelo cênico de Sophie Wilde, de Fale Comigo. Não temos muitas conexões com a história da personagem para além do que está acontecendo ali, em cena, e isso acaba nos afastando da trama do filme. Ao se aproximar demais de um longa tão recente, sem nada de especial, Baghead some.
Essa falta de originalidade do filme – que não podemos de jeito algum chamar de plágio, já que há o curta sobre isso lançado há quase sete anos – se torna um sentimento quase onipresente quando o roteiro de Christina Pamies e Bryce McGuire (do recente e fraco Mergulho Noturno) não desenvolve a história. A tentativa de criar uma mitologia por trás da bruxa, que surge nos últimos vinte minutos de projeção, não é nada além de um vazio narrativo.
Visualmente, o filme também não vai muito longe. A bruxa anda com um saco na cabeça que lembra a primeira versão do Jason no clássico trash Sexta-Feira 13: Parte 2 – ainda que existam grandes diferenças entre o monstro desse filme de terror e o assassino. Já o porão, em alguns momentos, lembra o conceito que vemos no ótimo terror Noites Brutais.
Após passar cerca de 70 minutos com essa trama absolutamente genérica e sem nenhuma vida, o grande sopro de ousadia de Baghead chega nos 20 minutos finais. É quando um personagem externo retorna à casa em que Iris está e as coisas saem de controle. Corredor não cria muito bem o terror do momento – o diretor, aliás, é um dos grandes problemas do filme –, mas a tensão natural com o embate que ali existe é quase natural. Sentimos aquilo.
E, então, há a reviravolta final que é a melhor coisa do filme – arrisco dizer, aliás, que se o filme tivesse adiantado esse twist para a metade da trama, brincando com a identidade da bruxa, seria um filme bem melhor. No entanto, preso em situações, cenários e monstros que não são nenhuma novidade, Baghead é daqueles filmes esquecíveis que, com o tempo, serão suplantados na memória por essas outras histórias tão parecidas e bem melhores.
Comentarios