Bobo é quem leva a franquia Bad Boys a sério. Criada em 1995 e comandada inicialmente pelo sempre histriônico diretor Michael Bay, a série de filmes fincou seu espaço no terreno do absurdo, do exagero, do tosco. Tudo, em cena, é além da conta: a ação, a filmagem em videoclipe, a atuação da dupla de protagonistas Will Smith e Martin Lawrence, as histórias.
Seria estranho, na verdade, sentar para assistir ao novo Bad Boys: Até o Fim e encontrar uma trama séria, sisuda. Nada disso: ainda que o exagero do filme esteja um pouco menos evidente do que no filme anterior, também comandado pelos diretores Adil El Arbi e Bilall Fallah, tudo está lá. O caos narrativo serve, de bandeja, um filme divertido, que ri de si próprio, com o público.
Isso nasce a partir de uma reviravolta na vida de Mike Lowrey (Smith) e Marcus Burnett (Lawrence). Em uma armação que acontece a partir de dentro da polícia, eles passam a ser vistos como comparsas de um criminoso que atuou no departamento em estreia ligação com a dupla. É aí que eles precisam provar a inocência do antigo colega e deles próprios.
Adil e Bilall fazem, a partir dessa trama, uma colcha de retalhos em que misturam comédia e ação em iguais medidas. E o melhor: são medidas bem dosadas, sem cair em um caricato quase impossível de resgatar. Há, claro, momentos de mais absoluto non sense, como quando um crocodilo branco gigante, chamado de Duke, surge em cena -- mas está tudo bem.
Afinal, Bad Boys: Até o Fim toma para si tudo que foi feito na franquia até então e trata isso como uma linguagem própria. O exagero faz parte desse universo, o caos reina. Nós, como espectadores, acompanhamos aqueles dois policiais no meio do furacão rindo, passando o tempo com diversão. Você esquece dos problemas lá fora, desliga o cérebro e se diverte.
Curiosamente, o filme até arranha algumas discussões mais interessantes, como vida e morte -- tudo tratado com o humor típico dos personagens, claro. Mas nada que tire esse efeito de filme sem limites: até mesmo a forma que lidamos com o fim da vida, aqui, vira uma piada.
Vale destacar, também, como Adil e Bilall estão mais talentosos na forma de filmar a ação: a câmera está mais agitada, mas eles sabem como e onde posicioná-la. Uma cena em específico brinca com a imagem de videogame, colocando o espectador na visão do personagem de Will Smith -- a forma como foi gravada até viralizou nas redes. É divertido, ousado. Beira o fantástico.
Bad Boys: Até o Fim, assim, é uma boa surpresa. Não espere discussões existenciais de Bergman, a ação de Mann, as ruas de Scorsese. É um filme comercial e que tem como seu principal atrativo não se esconder disso: ri de si próprio, de seu exagero, de sua banalidade. E, no final, ganha pontos por isso em tempos em que os filmes se levam a sério demais.
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