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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Babygirl' tenta, mas originalidade passa longe


Confesso: fui com muita sede ao pote. Babygirl, que estreia nesta quinta-feira, 9, era a estreia mais aguardada por mim na temporada de premiação, principalmente depois de assistir ao brilhante Conclave. Tudo nasce, afinal, a partir da diretora e roteirista do longa: Halina Reijn, do genial Instinto e do muito divertido Morte, Morte, Morte. Diretora em ascensão com uma protagonista fora do óbvio (Nicole Kidman, cotada para a temporada) em uma trama ousada.


Ousada? Pelo menos é isso que estúdio e distribuidora tentam vender. Com ares de A Professora de Piano, o longa-metragem fala sobre a executiva de uma grande empresa (Kidman) que se apaixona por um estagiário (Harris Dickinson). Nasce, ali, não apenas uma relação inesperada entre uma mulher mais velha e um homem mais jovem, como também uma trama de dominação -- questionando, inclusive, quem domina quem nesse cenário.


Obviamente, há tramas óbvias que nascem a partir do roteiro de Reijn, como obsessão e os próprios conceitos de dominação. No entanto, há um desejo de ir para algo mais profundo, e que dialoga inclusive com Instinto: paixão e abuso se misturando em uma única nota, em um único sentimento, criando emoções conflituosas do lado do espectador, tentando entender aquilo tudo.



O problema é que Reijn tira o pé. Perto do que mostrou em seu longa-metragem de estreia, Babygirl é um filme bem menos intenso e ousado. O questionamento sobre abuso, por exemplo, é algo que nada, nada e morre na praia. Inversão de poderes segue pelo mesmo caminho. Quem é que domina quem? São sentimentos frágeis que surgem em alguns momentos, mas que são freados por um aparente medo da diretora e roteirista em colocar cores mais vivas na relação.


Kidman está bem, ainda que longe de estar brilhante. Difícil decidir quem, na temporada de premiações, está menos impactante -- ela, Jolie ou Winslet? Bom pra Fernanda Torres, pelo menos. Harris Dickinson (Ratos de Praia) se sai melhor como esse rapaz tentando sensualizar e conquistar, enquanto também tropeça em alguma ingenuidade. Mas também não sai do óbvio.


Babygirl é um filme que, por excelência, deveria ser mais ousado, sensual e sexual. Mas não é isso que acontece. Reijn freia ideias e desejos, talvez preocupada em se adaptar à lógica americana de histórias assim. Não chega aos pés de A Professora de Piano, já mencionado, ou de outras produções europeias mais recentes, como o fortíssimo A Rainha de Copas. Reijn, que é holandesa, deveria se voltar para seu continente de novo e ser necessariamente ousada.

 

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