Yvan De Wiel (Fabrizio Rongione) é um banqueiro de Genebra que precisa viajar para a Argentina de uma hora para a outra. O motivo? O sócio, que comandava as transações de milionários argentinos direto para as suas contas na Suíça, desapareceu em plena ditadura argentina. Yvan, então, vai apagar o fogo entre os clientes do banco e voltar a conquistar espaço no mercado.
Essa é a trama do bom Azor, longa-metragem em exibição na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Dirigido por Andreas Fontana, estreante em longas, a produção tem um clima muito próprio. Ao invés de contar essa história de maneira banal, apenas misturando elementos apáticos, Fontana coloca muita personalidade na jornada desse protagonista banal.
As conversas do personagem com seus clientes são feitas aos sussurros ou em lugares escondidos para não chamar a atenção. Enquanto isso, Azor vai ganhando força mais como um thriller inesperado do que como um drama certeiro. Yvan não sabe em quem confiar, em como fazer as mesmas transações que seu sócio fazia. E se ele cometer os mesmos erros?
Com isso em mente, o cineasta vai provocando uma tensão crescente, até mesmo se valendo de recursos do cinema noir enquanto o protagonista vai descobrindo como funciona a sociedade argentina em plena ditadura. Há muito dito nas entrelinhas sobre esse período sombrio, mas, sobretudo, Azor é sobre dinheiro. Grana que viaja o mundo enquanto o resta da população sofre.
O filme, assim, não deixa de ser cruel. Nós, como brasileiros, entendemos aquela situação, compreendemos a ganância dos poderosos que ficam com o dinheiro no bolso -- ou, no caso, na Suíça -- e fazem de situações extremas como uma ditadura uma forma de ganhar mais e mais dinheiro. Yvan, inicialmente assustado e até mesmo apático, vai ganhando outra cara, forma.
Uma pena, porém, que o longa-metragem seja um tanto quanto repetitivo em suas situações, mesmo com o protagonista evoluindo tanto. Ele tenta descobrir o que aconteceu com o sócio, depois faz algumas reuniões, mais investigação. É um ciclo que, apesar de fazer sentido para o período histórico em questão, cansa. Ainda assim, anote: Azor é um dos bons filmes da Mostra.
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