Não é fácil fazer filmes sobre inteligência artificial nos tempos de hoje. A tecnologia -- ameaça? -- está cada vez mais próxima e presente. Quando tratada como vilã de uma trama, é ruim torná-la só um ser etéreo que nos ronda. É o ponto mais fraco de Missão: Impossível - Acerto de Contas e, também, o calcanhar de Aquiles de Atlas, estreia da Netflix nesta sexta-feira, 24.
A história, que se passa em um futuro distópico, acompanha Atlas (Jennifer Lopez), uma mulher em busca de vingança. No passado, quando criança, conviveu com uma inteligência artificial avançada, vivida pelo sempre apático Simu Liu (Barbie), que acabou seguindo por um caminho maligno. Fugiu da Terra e, agora, se tornou uma ameaça à existência da vida no planeta Terra.
Dirigido por Brad Peyton (de pérolas como Rampage e Terremoto) e roteirizado pelos estreantes em longas Leo Sardarian e Aron Eli Coleite se vale dessa casca, sobre uma IA com planos de destruir o mundo, para traçar os objetivos de todos seus personagens -- que são poucos, com um foco excessivo em Atlas. O principal ponto de apoio é Smith (Gregory James Cohan), o robô.
O longa, mesmo que de modo torto, tenta brincar com a dualidade de duas versões distintas de inteligências artificiais -- o robô bonzinho que Atlas precisa aprender a gostar e o robô do mal que deve ser destruído. Só que isso acaba caindo em um pântano de ideias sem vida, quando Peyton aposta em uma espécie de Prometheus e Atlas tentando escapar do mundo da IA.
O fato é que, no fim das contas, nada empolga. A discussão sobre inteligências artificiais não consegue avançar sequer de tramas que foram construídas há 20 anos ou mais, como Exterminador do Futuro ou, é claro, 2001, de Stanley Kubrick. Parece, assim, um eterno regresso de pautas e discussões em uma trama sem ter muito para dizer ou acrescentar.
E a ação? Também não é grande coisa. Jennifer Lopez (As Golpistas) pode até se esforçar aqui e acolá, mas fica refém de um filme sobre uma personagem tentando escapar de um mundo sem qualquer gracejo criativo e que não convence. O vilão, enquanto isso, parece se alimentar da apatia de Liu, sem nunca criar um momento de ameaça permanente. Ele acaba ficando até mesmo abaixo do capango Casca (Abraham Popoola), que traz mais força e fisicalidade.
Atlas, assim, é um filme datado, que não consegue propor nenhum assunto novo. As discussão são ultrapassadas, a trama é maniqueísta, a ação é apática. E fica a dúvida: o que nos resta depois de um filme como esse? Sem graça, sem novidades. É, infelizmente, a cara da Netflix.
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