A primeira cena de Athena, com o perdão da palavra, é do cacete. O cineasta Romain Gavras (Nosso Dia Chegará, O Mundo é Seu) faz um plano-sequência inacreditável, em que jovens entram em confronto direto com a polícia local francesa. É uma cena forte, cheia de camadas e de momentos muito bem ensaiados, que deixam qualquer um de boca aberta. No entanto, para por aí: o longa-metragem, infelizmente, não encontra mais espaço para surpreender.
A história fala, basicamente, sobre a revolta de moradores de um conjunto habitacional na França após a violência policial vitimar mais uma pessoa. No centro dessa história, estão os três irmãos mais velhos do garoto morto: um comanda a revolta da população contra a polícia, outro é um traficante poderoso ali dentro do conjunto habitacional e um terceiro é policial. Nessa gama de diferentes personalidades e profissões, a família vai exemplificando todo o conflito.
Em essência, o longa-metragem é como se fosse um terceiro ato estendido de Zona de Confronto e de Os Miseráveis -- não à toa, Ladj Ly, o diretor deste último filme, assina também o roteiro de Athena. No entanto, esses outros dois filmes são bons por conta de todo o contexto que é colocado na tela. Nós, como espectadores, compreendemos melhor a situação e toda a história é uma panela de pressão. Neste novo filme, vemos apenas uma revolta ininterrupta.
Ainda que o visual disso seja consideravelmente promissor, não há estofo em Athena. Depois dessa primeira cena inacreditável de tão boa, o longa-metragem simplesmente não tem mais o que contar. Fica andando em círculos, sempre no mesmo caminho. Aquela sensação que temos com Os Miseráveis, quando as coisas explodem, é infinitamente superior aos mais de 90 minutos desta produção da Netflix. Faltou mais história, mais coisas pra contar e entrosar.
No final, fica a sensação de uma história contada pela metade. Ainda que seja um filme de qualidade, muito bem filmado e com cenas inacreditáveis de tão boa, a história não acompanha, as emoções não surgem. Uma pena. Afinal, Athena tinha potencial de ser quase tão bom quanto Os Miseráveis, trazendo aquele sentimento de que as coisas precisam ter um ponto final nesse sistema de opressão em que vivemos. Aqui, porém, fica apenas a admiração pela estética.