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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Atentado ao Hotel Taj Mahal' é tenso, forte e enebriante


Foi em 26 de novembro de 2008 que a Índia parou, consternada. Seus mais de 1 bilhão de moradores viram, pela TV ou ao vivo, ataques terroristas coordenados ocorrendo em toda cidade de Bombai, centro financeiro do País, matando algumas centenas de pessoas. Dentre os locais que foram escolhidos como ponto de ataque estava o famoso Hotel Taj Mahal Palace, conhecido por hospedar celebridades e líderes políticos que vão visitar a Índia. Quatro terroristas entraram ali e mostraram o pior do ser humano.

É sobre este episódio, em específico, que o longa-metragem Atentado ao Hotel Taj Mahal se debruça. Lançamento desta quinta-feira, 2, o filme acompanha a jornada de algumas pessoas em tentar salvar hóspedes e funcionários da ira descontrolada, e descabida, desses quatro terroristas. Em destaque, o garçom Arjun (Dev Patel), o chef Hemant Oberoi (Anupam Kher), o turista americano David (Armie Hammer) e sua esposa Zahra (Nazanin Boniadi) e o russo Vasili (Jason Isaacs). Todos tentando sobreviver.

O clima do filme, opressor e tenso, lembra um pouco o que Paul Greengrass fez no excelente Capitão Phillips. São terroristas, malvados, planos em termos narrativos, mas que ainda assim causam comoção no público. Afinal, o que se mostra ali é cru, sem muitas firulas, e acaba despertando um sentimento enebriante no espectador que fica aflito com o que se desenrola. Ainda mais que o diretor de Atentado ao Hotel Taj Mahal, o estreante Anthony Maras, sabe como controlar o sentimento de sua audiência.

Além disso, há uma "graça" a mais. O filme se passa num ambiente restrito, quase labiríntico, o que torna ainda mais complexa a tarefa de escapar da mira dos terroristas. É uma missão ao melhor estilo de Duro de Matar. Todos querem sair com vida, mas como? Estão monitorando as entradas, estão fortemente armados, parte do hotel estão pegando fogo. Não dá nem pra confiar em quem está batendo na porta ou, ainda, no que as recepcionistas dizem. É uma situação, sem dúvidas, claustrofóbica e bem filmada.

Um tempero a mais ali são as boas atuações. Hammer (Me Chame Pelo Seu Nome) faz o tipo bonitão, galã, e preocupado com a esposa e a filha pequena. Funciona no papel, ainda que seja plano. O mesmo vale pra esposa Zahra, interpretada pela mediana Nazanin Boniadi (Homeland). Tinha espaço para desenvolver uma diferença de todos os outros hóspedes, mas fica apenas numa única cena. Os destaques, mesmo, são Patel (Lion) e Kher (O Lado Bom da Vida). Entraram de cabeça nos seus personagens.

O roteiro também tem uma boa sacada. Inicialmente, a sensação era de que a trama de John Collee (Mestre dos Mares) e do próprio Maras iria exaltar os feitos heroicos de americanos que estavam ali. Algo que O Impossível fez. Milhares de estrangeiros sofrendo, morrendo, e você foca em americanos? Sério? Mas, com o tempo, a trama vai mostrando sua razão de ser. Nada de heroísmo para americanos. Isso fica a cargo de indianos, enquanto a maioria dos estadunidenses só fazem besteiras aqui e acolá.

Vale destacar, também, a ambientação. Não dá pra dizer se o hotel em que se passa o filme é real ou é cenário. Tudo muito bem feito, nos conformes. Ajuda no mergulho.

Mas, apesar do bom desenvolvimento de roteiro, Collee e Maras ficam presos em algo que é difícil de sair em tramas sobre atentados terroristas. Primeiro: vilanização profunda dos muçulmanos, sem mostrar o que fez eles estarem ali. Segundo: falta de profundidade. Assim como em O Dia do Atentado, por exemplo, há muito personagens, diferentes entre eles. Como desenvolver cada um separadamente? Não dá. É coisa demais pra fazer e o roteiro, no final, não dá conta -- por mais longo que seja o filme.

Assim, Atentado ao Hotel Taj Mahal é um filme que, sem dúvidas, causa emoções em quem está assistindo. Aflição, tensão, desespero. Difícil sair impassível, ainda mais com boas atuações, boa direção e um roteiro estável -- ainda que seria bem interessante ver um filme desse nas mãos do próprio Greengrass. Mas funciona do jeito que é, mesmo com todas as limitações. Quem gosta de uma boa tensão, e histórias reais desesperadoras, vai sair transformado desse filme. Até que ponto chega a maldade?

 

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