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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Até que Você me Ame' funciona apenas como curta-metragem


A premissa de Até que Você me Ame, longa-metragem britânico selecionado para o BIFF 2020, é excelente. Bebendo da fonte de Rua Cloverfield 10, o filme conta a história de uma garota (Ingvild Deila) que acorda num quarto estranho. Logo, um homem (Stuart Mortimer) surge e diz: "você foi sequestrada, está com as pernas quebradas. Só vai sair deste lugar quando me amar".


A partir daí, o diretor estreante Edward A. Palmer se debruça sobre uma trama de medo, paranoia e confiança. Quem é este homem? Será que está falando a verdade? O que quis dizer?


No entanto, assim como surge o interesse logo de cara pela premissa, rapidamente ele some. Afinal, Até que Você me Ame funciona como curta-metragem. E só. A tentativa de Palmer expandir a sua ideia original para algo maior é louvável, mas questionável. Algumas histórias são feitas para serem contadas em 15, 20 minutos. Não ao longo de mais de 1 hora de duração.


E aqui o espectador consegue sentir o peso dessa esticada. A trama não tem vitalidade -- pelo contrário, é arrastada, lenta, cansativa. Sabe quando você escreve um artigo na faculdade e o professor sugere de fazer um monografia, até um TCC? E você enche linguiça até dar a quantidade de páginas? É exatamente isso que ocorre aqui. Vazio narrativo, tempo jogado fora.

Deila (Rogue One) e Mortimer (The Subject) até estão bem em cena, mas não o bastante para segurar quase uma hora sem uma trama de fato. A tentativa de explorar a personalidade dos dois e de mostrar como eles se desenvolvem dentro daquele ambiente cheio de segundas intenções e mensagens cifradas só escancara ainda mais a ferida exposta no roteiro do longa.


E é uma pena. Afinal, Palmer tem criatividade, conta com algumas boas sacadas visuais (a transição entre momentos, usando a mesma sala em tempos diferentes, é sensacional) e não se esquiva de algumas soluções difíceis. Felizmente, com isso, a conclusão de Até que Você me Ame é feliz. Traz uma reviravolta interessante e quebra a expectativa do público com a história.


Mais impressionante ainda é saber o orçamento do filme: apenas 5 mil libras. Algo em torno de 6,2 mil dólares. Uma merreca perto de outras produções do gênero e que surpreende, afinal.


Enfim. Até que Você Me Ame é um filme com boa premissa, bons personagens e um bom final. No entanto, o caminho entre a primeira cena, onde é estabelecida a mensagem do longa, com o restante da história é tortuoso. Ainda bem que o final revigora o longa-metragem, mesmo com um excesso de didática por parte do roteiro. Palmer é um diretor com futuro. Bom ficar de olho.

 
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