Rose-Lynn Harlan (Jessie Buckley) acaba de ser solta da prisão e não sabe o que fazer com sua vida. Seu sonho é ser uma famosa cantora de country, mas os filhos pequenos e a mãe conservadora (Julie Walters) acabam domando esse seu desejo. No entanto, de alguma forma, a veia artística escapa no seu dia a dia como faxineira na casa de uma milionária. É a aproximação, assim, da realização de seu sonho. Mas, talvez, também seja o distanciamento de sua família. O que escolher? Quais os caminhos a percorrer?
Essa é a trama que permeia o bom drama musical As Loucuras de Rose, que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 3. Dirigido por Tom Harper (A Mulher de Preto 2: O Anjo da Morte), o longa-metragem parece uma boa mistura do forte Ayka, do começo de 2019, com o exaltado Nasce uma Estrela. É a mistura da vida de cantora, com uma trilha sonora que encaixa em cada momento da vida da protagonista, com os dilemas de uma mãe que acaba de ter filhos, mas não sabe o que fazer com eles e como tocar sua vida.
A partir disso, já se pode subentender que o principal ponto do filme está no dilema vivido pela protagonista. A forma como ela encara a vida, e como recebe as oportunidades que encontra pelo caminho, é radiante por um lado e triste por outro. A confusão é visível no olhar da personagem, que parecer bambear entre desejos. Ainda mais com a rigidez advinda da atmosfera proibitiva da mãe -- que, é evidente, quer só o bem da filha, mas acaba extrapolando e causando alguns problemas bem graves.
Além disso, vale ressaltar que Harper, apesar de apostar em clichês do gênero, sabe como colocar música na conversa. A trilha sonora de As Loucuras de Rose é deliciosa, sem ser piegas. E olha que é fácil, já que parece ter uma canção para tudo no country.
O que ajuda a evitar esse tom mais brega que o filme poderia ter é a atuação sob medida de Buckley (Chernobyl). A atriz, além de cantar muito bem, compreende o que sua personagem está passando e consegue inserir elementos de emoções e sentimentos em frases, olhares, gestos, Tudo funciona para que a personagem sirva a história. Além disso, há um bom contraste com a personagem criada pela sensacional Julie Walters (Mamma Mia!). O semblante da atriz carrega uma tonelada de emoções.
Pena, porém, que o excesso de rigidez da mãe -- que acaba sendo um pouco prejudicada pelo roteiro de Nicole Taylor, que vem do mundo das séries -- tire um pouco da emoção na jornada da protagonista. Muita coisa poderia ter sido evitada se ela tivesse sido um pouco mais compreensiva. E não são grandes concessões. São pequenas, breves.
Por isso, ao final de As Loucuras de Rose, há um sentimento dúbio. Há uma emoção genuína brotando a partir da vida dos personagens, mas o sentimento é confuso. Percebe-se que muita coisa teria sido evitada se uma ou outra atitude impensada não tivesse ocorrido. Mas tudo bem. A música e as boas atuações compensam o restante, entregando um filme que surpreende e te faz sair do cinema cantando e dançando.
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