Se existe algum herói na vida do jovem Émile (Jules Lefebvre), este é seu pai. O menino viaja nas histórias do homem interpretado por Benoît Poelvoorde, que diz já ter trabalhado com várias coisas: paraquedista, jogador de futebol, espião, e, Conselheiro de Charles de Gaulle. É quase um personagem mágico em As Histórias de Meu Pai, estreia nos cinemas desta quinta-feira, 9.
As coisas, porém, logo começam a ficar mais sérias quando André, o pai, pede ajuda ao seu filho em uma missão que parece ser o objetivo de uma vida. A partir daí, a mitomania do protagonista começa a ganhar outros contornos. Até que ponto o garoto sabe o que é mentira ou verdade?
Essa é a trama de As Histórias de Meu Pai, que conta com direção de Jean-Pierre Améris (A Linguagem do Coração). O filme, inicialmente, parece ser uma comédia inusitada, em que esse pai vai criando uma realidade paralela para o filho, como se fosse uma mistura francesa de Adeus, Lenin e Peixe Grande. Mas, rapidamente, começamos a nos questionar sobre limites.
Lá pela metade, fica evidente como o pai simplesmente perde controle das histórias que está contando ao seu filho. E, mais do que isso, rapidamente a relação do pai com o filho e a esposa se mostra tóxica, abusiva. A mãe sofre vendo o pai praticamente enlouquecendo na sua frente, enquanto o menino vive uma vida confusa, até mesmo levando as mentiras pra dentro da escola.
Enquanto isso, Améris coloca um tom mais lúdico, divertido e inesperado na história que, em seu texto original do livro em que é inspirada, é bem mais sombria. Por isso, é difícil não sentir certa estranheza com uma história que é essencialmente pesada, mas que é tratada por um filtro (tipicamente francês) de ingenuidade. Tudo parece engraçado, mas é de fato trágico.
Com isso, apesar da boa atuação principalmente de Poelvoorde e um final forte, potente, que tenta resgatar todo esse drama da história, As Histórias de Meu Pai se torna um filme torto, errado, atrapalhado. A história simplesmente não encaixa com a direção. E o pior de tudo é que, se tivesse sido tratado da maneira correta, não tenho dúvidas de que seria um bom filme.
Filme sensível , delicado, fala de loucura e relações abusivas sem ser piegas. Vale a pena ser visto!