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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Arábia', estreia do streaming, é filmaço nacional


Nos últimos tempos, o cinema nacional encontrou um caminho muito firme e conciso no chamado "neorrealismo brasileiro". É uma mistura, não muito clara, entre ficção e documentário, que já gerou ótimas produções como Corpo Elétrico, Elena, Baronesa e A Cidade do Futuro. Agora, chega aos serviços de streaming, porém, o ápice desse estilo cinematográfico: o longa-metragem Arábia, dos mineiros João Dumans e Affonso Uchoa.

O longa, inicialmente, acompanha a trajetória de dois irmãos sozinhos em uma cidade industrial mineira. Os pais, aparentemente, saíram numa viagem e eles precisam se virar como podem. As coisas mudam, porém, quando um trabalhador morre num acidente e o garoto mais velho precisa ir pra casa do falecido pegar umas roupas. Lá, ele encontra um diário e começa a lê-lo. Aí que começa o filme de fato, mostrando a vida do tal trabalhador.

Tudo nesse filme funciona. A começar pelo roteiro, escrito pelos próprios Uchoa e Dumans, que consegue mostrar a realidade do trabalhador como ninguém. Enquanto Corpo Elétrico, por exemplo, saturou a história de momentos pouco fílmicos e Baronesa exagerou no tom documental, Arábia consegue traduzir essas histórias marginais de maneira natural, mas sem perder a autenticidade e a estrutura de um filme.

Há, ainda, uma narração que tinha tudo para não funcionar, mas que encaixa como uma luva dentro de Arábia. Aposta arriscada da dupla de realizadores, mas que cai muito bem na trama.

O elenco também ajuda muito nesse processo. Aristides de Souza, que vive o tal trabalhador, não é um ator com experiência -- fez apenas uma ponta no bom A Vizinhança do Tigre, de Uchoa. Ele, com poucas palavras, consegue passar sentimentos genuínos, urgentes, necessários e, principalmente, identificáveis por grande parte de sua audiência. É um ator pronto, preparado e que precisa continuar sua trajetória. Mais filmes com Aristides!

A direção de Dumans e Uchoa, por última, forma uma tríplice de acertos. Os dois sabem como posicionar a câmera e trazer sentimentos complexos à audiência, mudando o olhar sobre cenas aparentemente banais -- uma experimentação no final, enquanto o protagonista narra um sentimento, é algo que salta das telas e engole o sentimento da audiência. Que mergulho nos personagens! Que mergulho na história! Uma pérola do cinema.

Arábia, de maneira silenciosa e esperta, engrandece na tela quando você menos espera, termina no momento certo e deixa um verdadeiro soco no estômago de quem o assiste. É o ápice do neorrealismo brasileiro que, dificilmente, conseguirá encontrar, por hora, uma trama ou história mais interessante e profunda do que essa. Arábia é urgente, é necessária, é real, é intenso, é um exemplo -- como tantos outros -- que o Brasil tem um cinema forte. Assista Arábia.

 

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