Não são poucos os longas-metragem que falam sobre a figura marginalizada do piloto de fuga, que sempre é coadjuvante em histórias de assalto. Só na história recente do cinema, é possível relembrar de títulos como Drive, com Ryan Gosling, e Baby Driver, do sempre bom Edgar Wright e que conquistou o coração de muitos fãs. Agora, chega mais um bom filme sobre o tema: Wheelman, produção original da Netflix com Frank Grillo no elenco e Jeremy Rush na direção.
A história, que é conta sob o ponto de vista do carro, mostra a confusão que um misterioso motorista de fuga (Grillo, de Uma Noite de Crime) entra após um assalto. Afinal, ao invés de esperar os comparsas, ele recebe ordens de uma ligação misteriosa para pegar o dinheiro do assalto e fugir, deixando os outros ladrões para trás. A partir daí, o tal motorista entra em uma verdadeira espiral de acontecimentos ruins, envolvendo chantagens, crimes e muita corrida de carro.
O primeiro ponto a se ressaltar é a originalidade narrativa de Wheelman. O longa inteiro é contado a partir do ponto de vista do carro -- algo parecido com o que foi feito no ótimo filme Locke, com Tom Hardy. Assim, não acompanhamos apenas o que acontece na vida de seu personagem principal, como de qualquer pessoa que entra no carro. Isso, é claro, acaba por limitar a narrativa de maneira brutal, impedindo que entremos mais na vida do personagem. Mas não afeta o resultado de maneira imediata.
Afinal, o filme conta com um recurso interessante de “chantagem por telefone” -- algo que também foi visto em outro filme, no mediano Toque de Mestre. Misturando os dois tipos de recursos, então, o longa-metragem deixa o espectador totalmente no escuro e aflito pelas possíveis resoluções da trama. É impossível não ficar atento à cada detalhes e pensar em soluções e respostas plausíveis para tudo que está acontecendo. É, sem dúvidas, uma experiência interessante.
Frank Grillo também mostra que é o ator certo para este papel. Duro e sem muito tempo pra carisma, o seu personagem consegue passar a frieza necessária para a tela e convence -- e muito -- com sua interpretação. De resto, nada muito a se destacar. Caitlin Carmichael tem alguns bons momentos como a filha da personagem de Grillo, mas nada que se destaque. Wendy Moniz e Garret Dillahunt estão apenas funcionais, sem muito espaço para mostrar ao que vieram.
E Wheelman se sustenta muito bem com essa estrutura e com a direção inspirada de Rush, que estreia em longas. No entanto, derrapa -- e muito -- nos minutos finais. Apesar de uma boa cena de ação e perseguição, o filme perde o foco e, por conta da opção de mostrar tudo do ponto de vista do carro, perde preciosos momentos que serviriam para explicar o que está acontecendo na tela. Uma briga de gangues e uma “teletransportação” da ex-esposa do motorista tiram o espectador da narrativa.
Assim, mesmo que grande parte do filme causa um sentimento positivo de criatividade com um frescor de originalidade, Wheelman termina em uma triste nota negativa, com um final corrido, estranho, muito mal contado e que não faz jus à tudo que tinha sido criado até ali. Mas, sem dúvidas, há muito que se aplaudir do trabalho de produção. Por conta da ousadia e criatividade, Wheelman se torna um primo distante de Baby Driver e Drive, agradando os que gostam desse tipo de história.
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