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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: Apesar de erros, ‘Lino’ é boa iniciativa de animação no Brasil

Atualizado: 11 de jan. de 2022


O Brasil não tem um histórico de animações positivo. Apesar de algumas realizações com grande destaque, como O Menino e o Mundo e o clássico O Grilo Feliz, nada conseguiu se equiparar com produções internacionais feitas por estúdios do quilate de Pixar, Dreamworks e afins. Agora, porém, um novo filme nacional chega com “ares de padrão internacional” e já promete elevar a discussão sobre animações brasileiras: o longa-metragem Lino, produzido pela Start Anima em parceria com a Fox.

A história, que segue a cartilha e a fórmula das produções internacionais, acompanha a vida do desafortunado Lino (voz de Selton Mello). Sem grandes perspectivas ou emoções no seu cotidiano, ele enfrenta as dificuldades de animar festas infantis com uma imensa e estranha fantasia de gato. Certo dia, Lino se cansa dessa sua vida e pede ajuda para um curandeiro, o divertido Don Leon. No entanto, a mágica dá errado e o rapaz, mais um vez cercado pelo azar, se transforma num gato.

A partir daí, Lino, o curandeiro e uma criança que cai dos céus -- literalmente -- partem em busca de um poderoso feitiço que possa reverter a situação do animador de festas e que o faça voltar à antiga forma. No meio do caminho, porém, o trio tem que enfrentar uma policial durona (Drica Paes), um mago poderoso e um homem trambiqueiro que rouba a fantasia de Lino, faz roubos na cidade e, depois, tenta fugir do País para viver com sua namorada (com a voz de Paolla Oliveira).

Apesar das tentativas de abster Lino de qualquer comparação com as animações de fora, as primeiras cenas já derrubam esses esforços. Afinal, o filme foi desenvolvido usando um mesmo software gráfico da gigante Pixar e todas personagens do longa-metragem contam com uma semelhança assustadora com filmes clássicos do estúdio. É um trabalho técnico de primeiríssima qualidade e que surpreende seus espectadores, batendo de frente com as animações estrangeiras.

No entanto, infelizmente, o mesmo não vale para o roteiro do longa-metragem, que se torna o calcanhar de Aquiles da produção nacional. Enquanto o trabalho técnico exala qualidade, o roteiro beira o amadorismo quando comparado com produções internacionais. Excesso de didatismo, piadas repetidas, personagens sem sentido na trama e brincadeiras com pum a cada quinze minutos cansam a audiência, que acaba ficando presa em uma história sem grandes momentos.

Um exemplo: a tal criança que cai dos céus nas mãos de Lino não possui função narrativa alguma na trama. Servindo como uma espécie de Boo, de Monstros S.A., ou do garotinho que se perdeu dos pais em A Era do Gelo, a menina serve como a personagem que resgata os protagonistas para suas realidades. Lino, apesar das dificuldades, precisa protegê-la. No entanto, esta premissa se perde junto com a personagem da criança. Há momentos em que ela chega a ser esquecida na história. Erro feio.

Outro problema está no excesso de caricatura em alguns personagens. O vilão que rouba a fantasia, por exemplo, é totalmente unidimensional e nada faz sentido em suas atitudes. O mesmo vale para os dois parceiros da policial, que são extremamente infantis e não contam com elementos de aprofundamento. Nada em suas atitudes faz sentido. Alguns podem até argumentar que o filme é infantil e isso é perdoável. Não, não é. Veja Divertida Mente e mude de opinião.

Há, também, um excesso de referências ao longo de Lino: Harry Potter, O Iluminado, Monstros S.A. Fica a dúvida se é referência ou cópia de histórias. Sem contar, também, a ausência total de “brasilidade”. Tudo bem que o filme foi feito para ser exportado, mas valia a pena colocar alguns elementos para relembrar os espectadores que esta é uma produção nacional. Até as músicas são em inglês! Faltou um senso de nacionalismo para o público se identificar.

No final, Lino é impecável em sua técnica, mas péssimo em termos de cinema. Não tem um roteiro coeso e é recheado de excessos, apesar de ter apenas 90 minutos. Foi um excesso de dedicação no desenvolvimento gráfico da animação e uma falta de cuidado na criação da história. Ainda assim, é um bom passo para as animações brasileiras. Só falta apurar mais o sentido de como fazer cinema para as crianças. Quem sabe sai, dessa pedra bruta, um grande expoente dos desenhos?

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