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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Anton' emociona com trama sobre amizade


O cineasta Zaza Urushadze, morto em 2019, era um exímio contador de histórias de guerra. Mas, veja bem, não histórias sobre a guerra, mas histórias ambientadas na guerra. É o caso do poderoso e premiado Tangerinas, o grande filme de sua carreira. E também de Anton, seu último e inédito longa-metragem que estreou nesta quinta-feira, 18, na plataforma de Cinema Virtual.


Aqui no Brasil, o subtítulo Laços de Amizade já entrega um pouco do que será a história. Ambientado na Ucrânia de 1919, o longa-metragem acompanha a vida e o cotidiano de dois meninos em meio ao caos que vive a região. Afinal, dois anos antes foi iniciada a Revolução Russa -- momento histórico pouco abordado nos cinemas -- e um processo de transformação.


Sob a ótica dos dois garotinhos, Zaza Urushadze vai tecendo uma trama cheia de mortes, reviravoltas, intolerância e outros efeitos desse conflito que se forma na região. É, novamente, uma narrativa poderosa sob as mãos do cineasta, que traz novos ângulos e propicia novos olhares sobre essa relação em contraste com os horrores da guerra que se forma por ali.

No entanto, ao contrário de Tangerina, que tem uma percepção e uma sensibilidade mais aguçadas, Anton acaba se desviando no meio do caminho. Ainda que os meninos sejam frequentemente evocados como os protagonistas, o roteiro de Urushadze acaba desviando e se distraindo com tramas paralelas. É a história do padre, da tia, do pai de um dos meninos...


São coisas que desviam demais do filme -- inclusive de seu título, subtítulo nacional e sinopse. Fica cansativo. Quem não conhece profundamente detalhes da Revolução Russa, da movimentação dos bolcheviques e dos efeitos na região da Ucrânia sem dúvidas vai ficar perdido. Há muita teoria e muitas referências em diálogos e acontecimentos não explicados.


Além disso, o roteiro do próprio cineasta e de Dale Eisler tem alguns momentos complicados. Um diálogo entre Dora -- a líder e capataz da revolução ali na região -- com Trostky beira o ridículo. Cheio de chavões, bobagens e simplificações do que foi a Revolução Russa, do que é o comunismo e outras coisas do tipo. Difícil encontrar outro momento tão ruim no cinema de Zaza.


Assim, Anton é uma produção cheia de altos e baixos. Mas, no final das contas, acaba trazendo uma visão interessante e original sobre um evento que já é pouco reproduzido e retratado nas telonas dos cinemas. Podia ser mais dinâmica? Com certeza. Podia ser um pouco mais didática, sem ser óbvia. Também. Mas, no final, o que vale é a intenção nessa despedida de Zaza.

 
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