Curioso quando os melhores momentos de um filme não são os dirigidos por seu próprio cineasta. É o caso do novo documentário nacional Antártica por um Ano, que chega aos cinemas nesta quinta, 16. Dirigido por Julia Martins (Rua dos Bobos), o longa-metragem acompanha a jornada de militares brasileiros na base nacional de exploração e pesquisa na Antártica. Além do frio, esses profissionais precisam enfrentar a solidão, a falta da família e, claro, o ambiente hostil que circunda o seu redor o tempo todo.
O filme começa com a cineasta embarcando com os militares para a Antártica. Saem do Rio, param no porto do Chile e, de lá, vão para o continente gelado. É interessante notar as pessoas se adaptando ao clima que nada tem a ver com o Brasil, assim como o relacionamento estranho que surge entre as pessoas -- que, querendo ou não, irão ter uma convivência direta por mais de 12 meses. É um período de adaptação interessante e que Julia consegue mostrar com depoimentos e algumas imagens que capta dia a dia.
No entanto, quando a coisa começa a esquentar e a ficar legal, com três meses de permanência na base, Julia parte. Simplesmente vai embora e, apesar de deixar claro que era o combinado anteriormente, não explica o porquê. Depois, pouco antes do inverno chegar, ela tenta novamente voltar ao local dos militares, mas não consegue por conta do clima. E fica por isso mesmo. As imagens do inverno -- o período mais interessante, por ser o de isolamento total -- são unicamente feitas pelos militares.
E esse material, curiosamente, é o mais rico de Antártica por um Ano. Levados ao isolamento naquele deserto branco de gelo, eles se soltam, criam laços e, com certeza, rompem outros. Rompimentos esses que, infelizmente, não são mostrados pela câmera objetiva dos próprios retratados. É de se ficar pensando que material esplêndido existiria se Julia tivesse ficado ali por um ano inteiro, sem pausas. A câmera da diretora, assim como os próprios militares, teria se camuflado ali. Entrado na rotina, no ambiente.
Depois, quando ela volta, faltando apenas algumas semanas para o grupo partir, o que j resta são apenas depoimentos de como aquelas pessoas estão ansiosas para ver os parentes e como foi esse tempo de reclusão -- contando, claro, com o tempero de vídeos feitos por ele. Mas fica uma sensação de vazio. Afinal, o documentário se chama Antártica por um Ano e, desde o começo, parece se propor a acompanhar essas pessoas por todo esse período. A proposta, claramente, não deu certo. E aí? Acabou?
A sensação é que o esforço de passar um ano na Antártica com aqueles homens e mulheres corajosos, que abdicaram de suas famílias pela profissão e pelo País, ficou pela metade. A expectativa inicial é frustrada. E ainda que seja criado um vínculo entre o espectador e os retratados, que são carismáticos, falta algo. Há um espaço não preenchido. Os melhores momentos são os filmados pelos militares e seria ainda melhor se houvesse olhar artístico de Julia. Oportunidade desperdiçada e não explicada.
Antártica por um Ano é um filme interessante e que traz a história interessante sobre esses militares, que estão sempre ali, ocupando a base brasileira na Antártica ao longo de 12 meses. Mas poderia ir além. A diretora, inclusive, podia ter feito algo participativo, no qual mostraria os efeitos do isolamento em si própria. Falto algo. É uma pena.
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