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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Annabelle 3' demora a engrenar, mas acaba por surpreender


O subtítulo do terceiro capítulo da franquia da boneca Annabelle é De Volta para Casa. Lembra, num primeiro momento, alguma comédia perdida lá pelos anos 1990 e estrelada por Macaulay Culkin. E curiosamente, apesar do humor não ser o foco aqui, a trama tem ressonâncias com Esqueceram de Mim. Afinal, Annabelle 3 gira em torno de Judy (Mckenna Grace), a filha do casal Warren que ficará sozinha em casa por uma noite. Para cuidar dela, os pais contratam a babá Mary (Madison Iseman), uma menina certinha e que acaba deixando a amiga Daniela (Katie Sarife) ficar na casa também.

Sozinhos neste lugar que abriga alguns dos objetos mais malignos do mundo, o trio acabará entrando numa enrascada após a amiga invadir o quartinho onde ficam os artefatos e, sem querer, libertar Annabelle. E pior: o demônio que comanda a boneca ainda irá invocar algumas outras maldições que, até então, estavam presas por lá.

Assim, comandado pelo cineasta estreante Gary Dauberman, o longa-metragem irá se propor a ser uma mistura entre o já citado Esqueceram de Mim com aquelas casas de terror que existem em parques de diversão. Afinal, o objetivo aqui é claro: fazer com que Annabelle comande uma orquestra de monstros e assombrações, todos prontos para assustar, causar pesadelos e, claro, abrir brechas para ainda mais spin-offs da franquia. Tudo isso com muita confusão causada pela menina e, principalmente, pelas duas adolescentes com toda a responsabilidade de cuidar da herdeira da família Warren.

Inicialmente, Annabelle 3 demora a engrenar. Durante cerca de uma hora, de seus 106 minutos totais, Dauberman se dedica a construir a atmosfera. Quase não tem sustos. Apenas dicas das assombrações que irão aparecer, de como é a personalidade da nova protagonista e como se dá a dinâmica na casa -- seja quando os Warren estão por lá ainda ou quando já está sob os cuidados da babá. O público em geral, que espera sustos e jumpscares, pode se decepcionar um pouco com esse início. Não é ruim, mas falta vitalidade para um universo compartilhado que já chega ao seu sétimo longa-metragem.

Além disso, a personagem de Katie Sarife (Sequestros em Cleveland) é a junção de todos os estereótipos possíveis e inimagináveis de filmes de terror. Ela entra no quarto escuro que não deve entrar. Ela mexe no que deve ficar quieto. Ela tenta invocar espíritos. Ela deixa o bolo queimar na cozinha. Ou seja: faz tudo de errado num filme.

Mas depois da ambientação e dos clichês necessários para ativar a narrativa, Dauberman instaura um show de horrores dentro da casa dos Warren. Apesar de ser estreante por trás das câmeras, o diretor roteirizou os outros dois filmes da boneca amaldiçoada e, assim, conhece bem o universo. Ele também mostra talento para causar arrepios. A boneca, novamente, não se mexe. Mas algumas cenas causam medos reais no público. Alguns jumpscares também são encaixados de maneira inteligente.

O mais polêmico aqui é a introdução de uma infinidade de novas criaturas, monstros e assombrações -- vão desde lobisomens, passando por samurais e indo até um jogo de tabuleiro. Parece uma versão mais hardcore do filme de Goosebumps. Alguns deles funcionam dentro da narrativa, causam arrepios e chamam atenção, podendo abrir portas para novos spin-offs, principalmente quando Annabelle chega ao seu provável fim e A Freira e A Maldição da Chorona fracassam de crítica e/ou público. São apostas.

O trio de protagonistas também vai bem e consegue passar a essência de pessoas dentro de uma casa de horrores. É interessante o recurso usado pelo diretor, que lembra It: A Coisa, em que cada um dos personagens vê um ser diferente. Isso dá uma maior sensação de vulnerabilidade e deixa-os mais expostos. Dentre as três, porém, o destaque fica com a garotinha Mckenna Grace (Capitã Marvel, Designated Survivor). Ela sabe posicionar sua personagem em cena e explora várias possibilidades. Vai longe.

Vale destacar, também, que Dauberman não se rende aos clichês da franquia Invocação do Mal que já estavam cansando -- como a câmera que vai, volta, ameaça o susto, volta de novo e aí, depois disso tudo, finalmente usa o jumpscare. Ele até faz piada com isso. Pena que a trilha sonora, apesar de marcante, continue a ser óbvia demais por aqui.

Annabelle 3: De Volta para Casa é um filme que demora a engrenar. Dauberman se enrolar um pouco na ambientação, que poderia ser bem mais curta já que este é um terceiro capítulo sobre uma personagem já bem conhecida -- que apareceu até em Aquaman. No entanto, quando começa a dar os esperados sustos, é possível até arrepiar. Afinal, a introdução de outras criaturas, algumas brincadeiras de câmera e atuações inspiradas não deixam que clichês e trama arrastada se tornem a única lembrança ao subir dos créditos. É um dos melhores da franquia Invocação do Mal.

 

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