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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Ana. Sem Título' acerta na mistura de ficção e documentário


Logo nos primeiros minutos de Ana. Sem Título, a protagonista Stela (Stella Rabelo) está em uma exposição ao lado da diretora e roteirista Lucia Murat (Praça Paris). Dentre outras obras ali expostas, elas param por mais tempo numa lista, com fotos e nomes, de pessoas que desapareceram em ditaduras da América Latina. "Onde está?", pergunta Incessantemente a obra. E é justamente essa questão que permeia todo o longa-metragem Ana. Sem Título.


Aqui, acompanhamos Stela, uma atriz brasileira que está realizando uma espécie de documentário sobre cartas trocadas por artistas plásticas sul-americanas na década de 70 e 80. Viajando por alguns países da América Latina, ela coleta documentos, trabalhos e outras informações sobre a realidade vivida por essas artistas durante as ditaduras. É assim que ela descobre a existência de Ana, uma jovem brasileira que desapareceu neste sombrio período. Obcecada pela personagem, Stela, então, resolve encontrá-la e descobrir o que aconteceu.

A partir daí, com uma mistura inteligentíssima de ficção e documentário, acompanhamos mulheres que lutaram contra esses regimes autoritários nos anos 1960, 1970 e 1980. É como se acompanhássemos uma criação coletiva dessa Ana, que personifica essa mulher, artista e progressista que é perseguida, morta, desaparecida. A criação ficcional é tão potente, e tão bem entrelaçada com o documental, que é fácil para o público esquecer que nem tudo é verdade.


Afinal, mais do que algo exageradamente ensaiado, Murat cria aqui uma amálgama de sensações, ideias, memórias e reflexões que partem dela e ganham forma aqui. Experimentalismos e narrativa convencional se misturam, criando um filme acima da média e que provoca e instiga. Personifica essa pessoa morta e perseguida durante ditaduras -- algo que a própria Murat sofreu, presa durante a Ditadura Militar no Brasil. É uma mistura de elementos.


Há uma certa lentidão que incomoda, e até consegue tirar um pouco do espectador de dentro da história. No entanto, a força do discurso de Murat -- e o final irretocável -- faz com que Ana. Sem Título se torne uma produção marcante. E é importante, acima de tudo, em um momento em que a sombra do passado insiste em retornar e se insinuar nos meandros do poder e da sociedade.

 

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