Logo que recebi o convite para participar da sessão para a imprensa de Amor(es) Verdadeiro(s), longa-metragem que chega às telas dos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 18, fiquei intrigado com a sinopse. Afinal, é o filme sobre triângulos amorosos mais diferente que já vi.
Veja a história: Emma (Phillipa Soo) é uma mulher casada com Jesse (Luke Bracey). O céu é o limite. Até que o marido sofre um acidente e some. Após viver o luto, Emma decide tocar sua vida e fica noiva de Sam (Simu Liu), um amigo que era apaixonado por ela desde a escola.
E é aí que as coisas ficam interessantes: ao melhor estilo Náufrago, Jesse volta. Com isso, Emma passa a viver o maior dilema da vida: voltar ao que era antes, casada com Jesse e vivendo como sempre foi, ou continuar seus planos para se casar com Sam, seu novo amor.
O fato é que a história, escrita por Taylor Jenkins Reid (mesma autora de Daisy Jones & The Six), tem lá sua complexidade: é um triângulo amoroso cheio de nós, difícil de resolver. Só que a direção de Andy Fickman (A Montanha Enfeitiçada) e o roteiro de Taylor e do marido Alex Reid não conseguem acompanhar essa complexidade. Fica para trás, tentando chegar perto.
Com isso, a sinopse é mais interessante do que o filme em si. A começar pela direção apática de Fickman: o cineasta não consegue colocar a emoção necessária nas cenas, sempre deixando tudo absolutamente insosso. Fica a sensação de que nada é de verdade, com personagens pouco impactados pela força dos acontecimentos que deixariam qualquer um chocado.
Isso é reforçado ainda mais pela edição que parece ser feita por um aluno de Ensino Médio e pelo roteiro caótico do casal Reid. A forma que os flash backs mostram o avançar dos dois relacionamentos, com cenas entrecortadas, quebra o clima e a emoção de muitos acontecimentos que, em um primeiro momento, deveriam ser potências emocionais.
Conforme a história vai avançando, vai ficando claro como faltou um roteirista que não tenha ligação com o livro que deu origem ao filme. Amor(es) Verdadeiro(s) tenta reproduzir absolutamente tudo o que está nas páginas, colocando nos 100 minutos de filme coisas que não fazem sentido no audiovisual — apenas no papel, onde tudo é aceito. Sobra artificialidade.
Muitas cenas, que até podem ser engraçadinhas ou simpáticas, quebram demais o vínculo do público com a realidade. Uma cena em que Sam, que é professor de música em um colégio americano, desabafa com alunos chega a ser vergonhosa. Se o filme quisesse quebrar a ligação com a realidade, deveria ser desde o início, não em cenas quaisquer.
Fora que a direção de Fickman é muito, muito, muito ruim. O diretor ajuda a criar esse clima irreal em cenas artificiais: a batida de carro sem qualquer tipo de dano a não ser um capô levantado, a livraria descolada da realidade, a família sem personalidade e vontade própria.
São pequenas coisas que vão pontuando o filme e afastando ele da sensação de que é algo sério, de que é um romance feito para funcionar. Isso sem falar da falta de torcida: não tem um vilão aqui, a não ser o destino. E isso é tão frustrante quanto apático. Você não consegue torcer por ninguém e, com isso, o filme logo se torna desinteressante. Não há conflito além do inicial.
Amor(es) Verdadeiro(s), assim, é daquelas produções que só funcionam no mundo das ideias. Quando colocada em prática, fica evidente como é apenas uma ideia sem qualquer força para segurar o público por mais de 20 minutos. Talvez agrade os fãs mais aguerridos de Taylor Jenkins Reid, mas dificilmente vai encontrar espaço fora da bolha.
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