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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Amanhã Chegou' discute consumo e sustentabilidade no País


Há poucas semanas, os cinemas brasileiros exibiram o excepcional documentário Ser Tão Velho Cerrado. Ainda que tenha alguns exageros e uma conclusão que parece se repetir, o filme acerta ao chamar a atenção para um problema pungente no coração da América do Sul: a devastação do Cerrado e os consequentes problemas ambientais a serem percebidos no continente. Agora, um outro longa-documental chega para alertar sobre outro problema grave: o consumo exagerado afetando o ambiente ao nosso redor.

Amanhã Chegou, longa-metragem de Renata Simões, passeia pelo Brasil para descobrir e relatar projetos que trabalham a consciência mercadológica e de consumo no País e que, assim, ajudam a combater severos problemas ambientais -- como o uso contínuo de agrotóxicos, a falta de recuperação de áreas degradas pela mineração e por aí vai. É um trabalho precioso de Renata, que consegue pinçar exemplos e projetos que, de fato, saltam aos olhos e mostram como há iniciativas de grande importância no setor por aí.

Para contextualizar todo esse movimento e constatar sua importância, a diretora e a roteirista Roberta Nader criam um encadeamento de histórias e argumentos interessantes. Sem recorrer ao óbvio, elas mostram o depoimento de pessoas ligadas à ONGs, institutos de preservação, ambientalistas e, até mesmo, alguns economistas. A lucidez das entrevistas, que lembra o já citado Ser Tão Velho Cerrado, impressiona e ajuda a abrir os olhos do público, que se surpreende com o que é visto.

O grande acerto de Amanhã Chegou, porém, reside no seu formato. Ainda que cansativo e repetitivo em alguns momentos, o filme traz questionamentos e problemas, mas também soluções. É algo difícil de ver nos documentários do tema, que sempre problematizam, mas não mostram visões otimistas e possibilidades de ação. Renata Simões, porém, torna mandatórias as respostas na narrativa. O pessimismo com o tema está lá -- principalmente em falas de Eliane Brum --, mas não assume o protagonismo.

Isso acaba trazendo uma leveza e um desejo de participação muito grande. Há problemas que são enfatizados a todo o instante, mas o filme é colorido, "pra cima", feliz. É algo essencial em tempos tão sombrios, onde o meio-ambiente parece estar cada vez mais de lado e, em possíveis futuros governos, poderá ficar sob jurisdição dos grandes agricultores. É preciso, então, que um filme como Amanhã Chegou traga uma luz sobre o tema e indique o que pode ser feito. O que deve ser feito. O que é preciso para o planeta.

Em Amanhã Chegou, falta apenas o relato de projetos mais pulverizados pelo País. O Cerrado, por exemplo, tem um programa maravilhoso de valorização das frutas ali produzidas. O nordeste, enquanto isso, conta com ONGs que tentam valorizar a caatinga e mostrar o que pode ser produzido ali. O filme, porém, fica refém do eixo norte-sudeste e parece não dialogar com todas as pessoas. Quem sabe isso seja uma estratégia de Renata Simões para um segundo filme. Não dá pra reclamar. É preciso de mais coisas assim.

 

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