Uma das diretoras de Alvorada, Anna Muylaert, disse na abertura do filme no É Tudo Verdade que era um bom momento para lançar o longa-metragem no Brasil. Afinal, segundo ela, a produção mostra falas da presidente Dilma Rousseff que poderia até mesmo soar proféticas, falando sobre o que aconteceria com o País a partir de seu processo de impeachment, em 2016.
No entanto, o que vemos nos cerca de 90 minutos de duração não tem nada disso. Dirigido por Muylaert e Lô Politi, o longa-metragem mostra os bastidores do Palácio da Alvorada logo após a aprovação do processo de impeachment pela Câmara dos Deputados. Mas o que deveria mostrar a articulação de Dilma, assim como a tensão e as reuniões, acaba indo pra banalidade.
Vemos intermináveis conversas de assessores, preparativos para o dia da votação do Senado e o cotidiano banal e imperturbável do Palácio -- algo que, convenhamos, poderia ser contado em qualquer outro momento. Falta a tensão, faltam cenas desse processo que culminou em um período sombrio da história do nosso país. A sensação é que o filme ficou só na vontade.
O Processo, longa-metragem que também foi exibido no É Tudo Verdade, fala muito melhor sobre essa tensão nos bastidores durante o impeachment. Há mais cenas não vistas pelo público, há mais tensão, há mais verdade. Se formos falar de sensações e emoções que surgem do processo, Democracia em Vertigem consegue captar bem melhor o espírito do brasileiro.
Aqui há apenas funcionários indo de lá pra cá, sem parar, tentando manter os afazeres durante a tempestade que se aproxima. Teria sido muito mais interessante se o longa-metragem tivesse abraçado a proposta de falar sobre esses funcionários, geralmente tão invisibilizados, neste processo que abalou o País. Teria sido um trabalho mais fácil, interessante e memorável.
Além disso, Alvorada tem um grave problema técnico. Várias cenas contam com uma captação de som pobre, tornando difícil a compreensão e a imersão nas cenas. Problema gravíssimo.
Alvorada, assim, é um filme quase sem propósito. Tenta mostrar a rotina de Dilma durante o impeachment, mas não está em momentos-chave. Mostra, em paralelo, a rotina do Palácio, mas sem focar naqueles que fazem aquele lugar acontecer -- podendo, até mesmo, suscitar uma discussão sobre um processo de invisibilizar ainda mais os personagens. Pena. Tinha potencial.
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