É difícil encontrar filmes que falem de nanismo de maneira aberta e responsável. Ao longo dos últimos anos, só Peter Dinklage conseguiu seu espaço no cinema como Tyrion da série Game of Thrones -- sem tratar, diretamente, sobre a deficiência. No entanto, um bonito filme argentino, Coração de Leão, conseguiu superar essa barreira temática e falou, de maneira aberta e consciente, sobre relacionamento de um anão com uma mulher alta, até rendendo adaptação francesa.
Agora, chega ao Brasil o filme Altas Expectativas. A história, baseada livremente na vida do comediante Gigante Léo, é estranhamente parecida com a surpresa argentina de anos atrás: um anão (o próprio Léo) trabalha no jóquei do Rio de Janeiro. Lá, ele se encanta pela dona do café (Camila Márdila), mais alta com ele e com cara de pouquíssimos amigos. No entanto, com persistência e muito apaixonado por ela, Décio fará de tudo para conquistar o seu amor.
Como já foi salientado acima, a trama não é original. Afinal, ela pouco se distancia do que foi visto nos cinemas antes sobre o tema. Não há ousadias neste ponto e fica um estranho clima de déjà vu -- ainda que os diretores Álvaro Campos (estreante no posto de diretor) e Pedro Antônio (do fraquíssimo, mas divertido Um Tio Quase Perfeito) afirmam que tudo ali é livremente baseado na vida do Gigante Léo. Mas nem isso funciona para tirar o espectador desse sentimento.
Afinal, fora o interesse na história sobre nanismo, pouca coisa consegue ser atrativo para o público. As atuações, por exemplo, são apenas razoáveis: Gigante Léo faz o que pode em suas mãos, mas não sai do lugar; Márdila é a melhor em cena e ainda assim não é grande coisa; e o elenco de apoio é apenas funcional e sem destaques, tendo Milhem Cortaz como um tipo muito caricato, Agildo Ribeiro numa participação que não acrescenta nada; e Maria Eduarda Carvalo diverte.
Além disso, a direção é um pouco bagunçada e sem grandes atrativos. Há momentos que Pedro e Álvaro poderiam ousar, mas não saem da zona de conforto. Em outros, eles criam ângulos de câmera desnecessários, como quando Léo pisa firme e, rapidamente, a tela vai para a perspectiva do chão. Não há motivos para isso. Além disso, há acontecimentos sem lógica, como a paixão entre Cortaz e Márdila ou, ainda, a mudança de opinião de Léo sobre seu vizinho.
Outra coisa é a indecisão do tom. O filme, claramente, surge como um drama pessoal e um tanto quanto introspectivo. Mas parece que os diretores não ficaram felizes com isso e, do nada, inseriram trechos do stand-up de Gigante Léo no meio de toda a narrativa, com um objetivo que vai na contramão de seus propósitos. Parece que de, última hora, decidiram que precisavam deixar o filme mais leve para poder vendê-lo, também, como uma comédia pra família. Não colou.
Esses problemas estruturais, junto com a história pouco original, acabam tirando a pessoa da narrativa e a trama, que tinha tudo para ser interessante, se torna genérica e esquecível. A única coisa que se salvou e ficou presa em minha memória foi a trilha sonora, com uma pegada indie interessante. De resto, pouco é positivo e Altas Expectativas se junta à vários outros filmes com boas ideias e boa premissa, mas que morre pela falta de ousadia e de criatividade.
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