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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Alita: Anjo de Combate' é uma das surpresas do ano


Que grata surpresa é Alita: Anjo de Combate. Afinal, o filme tinha tudo pra dar errado. Primeiro, as complicações na produção, que atrasaram o início das gravações em anos e fez com que o projeto passasse de mão em mão -- começou com James Cameron (Avatar) e terminou com Robert Rodriguez. Depois, as complicações naturais de uma adaptação de mangá para as telonas que nem sempre dão certo, tomando como exemplo os desastrosos Death Note, Bleach e Fullmetal Achemist, da Netflix. Os dois últimos nem são filmes ruins, de fato, mas funcionam para públicos bem específicos.

Alita, enquanto isso, conseguiu o que parecia impossível: pegou a história do mangá Gunnm e a transformou em algo extremamente divertido, palatável e pronto para todos os públicos. A trama, afinal, é óbvia e já difundida, mas interessante: num mundo distópico, a androide Alita é resgatada pelo Dr. Ido (Christoph Waltz) de um lixão. Com um novo corpo, e uma força sobre-humana, ela começa a ajudar ser salvador a matar criminosos procurados ao mesmo tempo que passa a se relacionar com as pessoas da nova cidade -- dentre eles Hugo (Keean Johnson), seu crush; a ex-esposa de Ido, Chiren (Jennifer Connelly); e Vector (Mahershala Ali), um magnata dos esportes.

O primeiro grande diferencial de Alita que salta aos olhos, e diferencia o longa de outras produções distópicas como o recente Máquinas Mortais, é o capricho no design de produção. Sob responsabilidade de Steve Joyner (Sin City: A Dama Fatal​) e Caylah Eddleblute (Machete Mata), o visual do filme chama a atenção logo nos primeiros frames com um cuidado apurado na forma de construir a cidade em que Alita e o Dr. Ido moram. Fica mais fácil de mergulhar no filme. Nina Proctor (Machete) também acertou em cheio do visual dos personagens, marcantes e pouco exagerados.

E quem acha que o filme tem mais visual de videogame do que de cinema, está enganado. Ainda que algumas coisas sejam virtuais demais -- como as corridas com o 'patins robótico' --, a maioria funciona e deixa claro qual é a sua função imagética ali.

A coisa fica ainda melhor, porém, quando o diretor Robert Rodriguez (Machete, Pequenos Espiões, Um Drink no Inferno) consegue usar todo esse visual a seu favor. Ao invés de só contar a história de uma androide que passa a enfrentar a realidade dura de um mundo distópico, ele a insere brutalmente na criação da cidade e aproveita para fazer cenas de ação de tirar o fôlego. Este, sem dúvidas, é o ponto alto do filme e é quando o espectador é catapultado para dentro da tela. Difícil não se empolgar com as lutas de Alita e com as perseguições. Tudo é muito bem feito, dirigido e coreografado.

O elenco, surpreendentemente bom, também entra de cabeça na história. A protagonista e intérprete de Alita, Rosa Salazar (Bird Box), conseguiu entrar no filme mesmo com uma tonelada de efeitos especiais -- e fique tranquilo, os olhos gigantes da personagem não atrapalham. Ela passa diversas emoções na tela ao mesmo tempo que corresponde nas cenas de ação. Ótima atriz. Destaque também para Waltz (Django Livre), que emplaca seu melhor papel desde 007 Contra Spectre. Só Mahershala Ali (Moonlight) e Connelly (Uma Mente Brilhante) que são levemente subaproveitados.

A única coisa que tira peso da trama é o roteiro, escrito a seis mãos por Rodriguez, Cameron e Laeta Kalogridis (Ilha do Medo). Reduzido a partir de um roteiro gigantesco escrito pelo diretor de Avatar e Titanic, há dezenas de falhas na maneira que a história é contada. Diálogos expositivos demais, vilões sem profundidade, trama que se prolonga em excesso -- poderia ter 15 minutos a menos. Além de ser um daqueles péssimos finais que não terminam e deixam um gancho aberto para continuações. Não tem vício pior nos cinemas e nas séries atualmente. Foque no que está fazendo e feche a história.

No entanto, a imersão é tanta na história que isso não é, de fato, um problema. Alita: Anjo de Combate é a melhor distopia blockbuster nos cinemas desde Jogos Vorazes. É a ficção científica mais original e divertida desde No Limite do Amanhã, de 2014 -- ainda que Alita tenha muito do esquecível Elysium, com Matt Damon e Wagner Moura. É um filme pra ver na tela grande, sem preocupações, e se divertir a beça. É só embarcar na história, se deixar surpreender pelas cenas de ação e mergulhar nesse novo universo de Robert Rodriguez. Fazia tempo que o cinema não tomava esse ar de originalidade.

 

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