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Bárbara Zago

Crítica: 'Alguma Coisa Assim' é filme complexo, porém curto demais


Quando, em 2006, Esmir Filho e Mariana Bastos concluíram seu curta-metragem Alguma Coisa Assim, não tinham a pretensão de levá-lo adiante -- ainda que tenham feito questão de evitar seu abandono à qualquer custo. Doze anos depois, Caroline Abras (Gabriel e a Montanha) e André Antunes estreiam mais uma vez juntos, dando novamente vida aos personagens de Mari e Caio, respectivamente.

Durante a coletiva de imprensa, Esmir contou que a grande motivação para a continuação da história se deu pelo fato de a equipe ser muito jovem e com idades semelhantes, na faixa dos 25 e 35 anos. "O processo foi uma brincadeira de gente grande, como a gente costuma dizer. Entendemos que aquela história poderia ser um pouco mais do que isso, um longa-metragem", falou Mariana.

Enquanto o curta mostra a trajetória de dois adolescentes numa constante busca pelo entendimento de si próprios, que envolve questionamentos sobre sexualidade e valores ideológicos, a continuação explora suas vidas praticamente dez anos mais tarde. Já adultos, Mari, interpretada por Abras, agora mora em Berlim. Quem assiste ao filme percebe que a cidade alemã foi escolhida minuciosamente pelos diretores por ser tão compatível com a personalidade da protagonista. Mariana Bastos conta: "A Mari é uma personagem que gosta muito do novo, gosta de experimentar coisas diferentes. Ela foi morar fora do Brasil. Berlim tem a ver muito com transformação, é uma cidade cheia de guindastes".

O encontro do casal de amigos se dá quando Caio (André Antunes) vai para a Alemanha fazer residência em medicina e os dois resolvem dividir um apartamento. A vida de Mari condiz completamente com o seu jeito que nos é apresentado: instável. Não tem uma casa fixa, e é nesse contexto que Caio acaba se inserindo. Mantendo-se fiel ao curta, Alguma Coisa Assim revela ao espectador que a amizade dos dois vai além disso, sendo constantemente apresentada em conjunto com um aspecto quase erótico -- e aproveita para explorar isso.

Ainda que Esmir e Mariana tenham conseguido inserir elementos simbólicos de transformação ao filme, o que talvez seja sua melhor característica, 81 minutos acaba sendo muito pouco, principalmente por se tratar de uma história densa -- e muitos aspectos colaboram com isso. A trilha sonora por exemplo, apesar de bem encaixada, pode trazer um certo incômodo ao espectador, principalmente por ser pesada demais para sua curta duração.

Caroline Abras e André Antunes possuem uma ótima química, expressa perfeitamente tanto em momentos de intimidade quanto de discussões à flor da pele. Quem assiste ao filme, não desconfia que Antunes, na verdade, largou o teatro para trilhar o caminho da Psicologia. Ao falarem do curta, o psicanalista contou que "o da Carol foi o primeiro e o era para ser o último. Eu não tinha a menor pretensão em continuar. Eu só continuei a fazer porque era uma fidelidade a um encontro que a gente tinha tido em 2005. Só podia ser eu porque eu tinha feito o primeiro. Eu me senti um pouco que devedor àquele encontro bacana".

Alguma Coisa Assim fez um belíssimo trabalho ao juntar seu antigo curta-metragem com a nova produção sem que parecesse artificial -- tanto em questão de roteiro quanto de direção de arte. Inevitavelmente, sua duração prejudica o filme como um todo, justamente por ter se proposto a apresentar algo denso, que requer diferentes tipos de reflexão. No entanto, é uma história tipicamente humana, sendo identificável e memorável por qualquer pessoa.

 

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