Parece que a Netflix está experimentando cada vez mais o cinema da Arábia Saudita. Começou, no início do ano, com o fraco Alhamour H.A., sobre um rapaz tentando a vida no país, e agora com a estreia de Alarme de Incêndio, longa-metragem que chegou ao catálogo nesta quinta, 18.
Dirigido por Khalid Fahad (Valley Road), o longa-metragem acompanha a rotina de uma escola de garotas na Arábia Saudita. Logo de cara, nota-se como a escola é um espaço diferente do resto do mundo lá fora: enquanto elas andam nas ruas cobertas da cabeça aos pés, na instituição de ensino elas podem ficar sem véu ou hijab -- apenas com o universo da escola.
Engana-se, porém, quem pensa que é um ambiente totalmente imaculado. Uma das melhores alunas dali sofre com um bullying constante, que não para, de um trio de colegas. A diretora, enquanto isso, fecha os olhos. "Por que você não reage?", pergunta ela, quando a garota exemplar reclama do tratamento. Até que um incêndio muda totalmente o rumo da escola.
Apesar de ser dirigido por um homem, Alarme de Incêndio é feliz em mostrar os absurdos que acontecem na vida dessas garotas pela determinação de homens. A cena do incêndio, no antes, durante e depois, é revoltante: desde a inatividade de uma pessoa na rua, se recusando a abrir o portão, até a primeira reação de pais e familiares, que cobrem rapidamente a cabeça das filhas.
Fahad, assim, tem algo a dizer sobre esse comportamento que acontece no coração de um governo que ainda oprime constantemente as mulheres. A primeira hora de filme, assim, é bem acima da média, trazendo essas questões com diálogos interessantes com o público.
No entanto, depois do incêndio, o longa-metragem árabe da Netflix vira apenas mais uma trama de investigação. A diretora fica andando em círculos procurando os culpados pelo incêndio, enquanto somos confrontados a nos posicionar. Será que foram as outras garotas que também praticam bullying? Será que foi alguém de fora? Trama interessante, mas mais do mesmo.
A reviravolta final, convenhamos, é boa, mas o filme acaba perdendo algumas mensagens que seriam interessantes pelo caminho. Alarme de Incêndio poderia ser um filme sobre o machismo saudita, sobre o sofrimento da mulher árabe, sobre injustiças, sobre bullying. Mas em busca de uma sacadinha inusitada no final, perde bastante de sua relevância e a oportunidade de ir além.
Não é um filme ruim, vale dizer. Alarme de Incêndio nos coloca em outra cultura, questiona tradições e ainda apresenta uma trama interessante. Só é um filme que, infelizmente, perde as oportunidades de ouro que surgem pelo caminho, não chegando no ponto que poderia chegar.
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