A Amazônia é um celeiro cultural, natural e social impressionante. Afinal, nessa floresta que pega territórios de Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Venezuela, há uma efervescência de histórias contadas apenas de maneira localizada -- Rio 2 explorou a região, mas de maneira bem limitada. Por isso é tão interessante um filme como Ainbo: A Guerreira da Amazônia, longa-metragem de animação peruano que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 30.
Dirigido pela dupla Richard Claus e Jose Zelada, o longa-metragem conta a história de Ainbo, uma jovem garota que nasceu e cresceu nas profundezas selva da Amazônia, na aldeia de Candamo. Sua vida muda, porém, quando a situação de sua tribo ganha contornos um tanto quanto trágicos. É a deixa para ela sair por uma jornada pela Amazônia, junto com uma dupla de guias espirituais, para salvar o local da exploração ilegal e encontrar o "Espírito Materno".
Esteticamente, não há grandes inovações de Zelada e Claus. Eles usam uma animação 3D sem muita inventividade e que, infelizmente, não mostra toda a beleza e grandiosidade da região amazônica. Lembro um pouco Lino, animação brasileira que também buscou uma textura mais parecida com o que a Disney-Pixar faz. Ainda assim, apesar desse visual abaixo do esperado, as crianças menores devem se contentar e, com certeza, não vão ligar pra limitações técnicas.
Ainbo, afinal, é uma boa guerreira amazônica para entrar no imaginário das crianças. Ainda que um pouco ingênua e até pasteurizada demais, sem qualquer tentativa de aprofundar sua personalidade, ela é simpática e tem uma jornada bem delimitada. Uma pena que os personagens coadjuvantes não acompanhem essas boas possibilidades, geralmente com uma linearidade que incomoda -- o vilão, por exemplo, é apenas uma caricatura do que poderia ser.
O que causa certa incômodo, e isso também pode incomodar crianças um pouquinho mais velhas, é a falta de originalidade de um filme que fala de uma região e de uma cultura quase inéditas. Há uma necessidade aparente de ser o tempo todo uma produção da Disney. Os tais guias espirituais de Ainbo, por exemplo, são réplicas quase idênticas de Timão e Pumba. Será que não poderiam ter seguido por um caminho mais autêntico, com a cara da Amazônia?
Por isso não há dúvidas de que faltou se valer mais da cultura e sociedade da região. Ainbo acaba se aproveitando de lugares-comuns das animações sobre natureza e não aproveita o que há de melhor na Amazônia e nos países sul-americanos -- e não falar sobre um vulcão no meio da região que, apesar da existência de estruturas assim adormecidas, nada tem a ver com o que acontece por lá. Ainda assim, fica a certeza: pode ser uma diversão para as crianças pequenas.
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