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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Águas Selvagens' erra ao mergulhar em trama ultrapassada


Lúcio Gualtieri (Roberto Birindelli) é um ex-policial, trabalhando como investigador, que aceita um trabalho ingrato de ir até a fronteira de Brasil, Argentina e Paraguai para solucionar um crime cometido ali na região. No entanto, chegando lá, acaba encontrando uma organização criminosa envolvida em uma trama macabra e personagens atormentados. É essa a trama do filme Águas Selvagens, produção que chega aos cinemas brasileiros já nesta quinta-feira, 12.


Dirigido por Roly Santos (Qué Absurdo es Haber Crecido), o longa conta com atores entregues aos seus personagens. Não apenas o sempre competente Birindelli está bem com seu personagem, como as coadjuvantes Mayana Neiva (O Silêncio da Chuva) e Leona Cavalli (Carandiru) também vão além do óbvio e criar camadas com bons trabalhos com olhares, gestos e afins. No entanto, pode-se dizer que Birindelli, Neiva e Cavalli são os únicos pontos positivos.

Afinal, Águas Selvagens é um tremendo desastre. Depois desse começo que até chama alguma atenção, com um crime aparentemente sem solução, o resto do filme não acerta em absolutamente nada. Começando pelos tormentos do personagem de Birindelli, já visto de sobra no cinema de investigação -- quantos investigadores por aí, na literatura, no cinema e na TV, não são totalmente atormentados por uma vida pessoal ruim? Ed Morte, Jim Hopper, por aí vai...


É como se Lúcio Gualtieri fosse apenas uma colagem de figuras que já vimos por aí. Indo além disso, Roly Santos trata o roteiro de Óscar Tabernise com ares da década de 1980 ou 1990. Mas não pelo lado bom disso. Águas Selvagens tem um tratamento masculino, quase machista, no trato do desenrolar dessa história. Só a forma que Roly filma o corpo de Mayana Neiva, por exemplo, já mostra isso: há um fetichismo disfarçado, sem encontrar espaço para se justificar.


Águas Selvagens é, assim, um filme ultrapassado, com cheiro, jeito e história de décadas atrás -- e que hoje não faz sentido. Com uma investigação que vai perdendo o interesse do espectador e sem parar de pé, o longa-metragem encontra apenas o vazio. Afinal, em 2022, cá entre nós, não dá mais para apostar em um investigador com os mesmos problemas de sempre, uma direção que diminui as mulheres e um filme que fala o mesmo de vinte ou trinta anos atrás.

 

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