Saí da projeção de Adão Negro, filme da DC que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 20, com pena de Dwayne Johnson. O astro, que é um dos mais bem pagos de Hollywood e figurinha carimbada nos blockbusters de ação e aventura, é o principal nome por trás do longa-metragem do herói (ou, melhor, vilão?) da DC: ele carregou o projeto por anos e fez o filme acontecer.
Só que, uma pena, o longa-metragem é um desastre colossal que reflete com exatidão tudo o que a Warner Bros. não sabe mais o que fazer com o seu selo de quadrinhos. A história acompanha a origem do poderoso Adão Negro (Johnson) dentro do contexto de uma cidade fictícia, com inspiração árabe, que sofre com ataques desde 2000 anos antes da era comum.
Johnson era uma pessoa comum, no meio dos cidadãos dessa cidade, que conseguiu poderes místicos, numa situação bem parecida com a vista em Shazam!. Adão Negro, porém, se passa em outro momento, quando o anti-herói é despertado por uma mulher, desesperada, e precisa enfrentar situações do novo século. É como o Capitão América, perdido no tempo e costumes.
Além de toda a situação envolvendo a cidade, porém, ainda há um grupo de heróis enviados por Amanda Waller (Viola Davis) para deter a violência desenfreada de Adão Negro: Gavião Negro (Aldis Hodge), Esmaga-Átomo (Noah Centineo), Doutor Destino (Pierce Brosnan) e Cyclone (Quintessa Swindell). Basicamente um Esquadrão Suicida precisando lidar com Adão Negro.
Nesse ínterim, percebe-se logo como o diretor Jaume Collet-Serra (A Órfã, Desconhecido) não consegue (ou não pode) tratar o material com qualquer sopor de originalidade. Todos personagens, e a trama como um todo, parecem reciclagens de coisas que já vimos: Shazam, Capitão América, Homem-Formiga, Deadpool, Esquadrão, Doutor Estranho, Gavião Arqueiro...
Nada consegue ser original aqui. Até mesmo a violência, celebrada por alguns, é artificial, sem vida, conseguindo impactar apenas aqueles que não estão acostumados a ver qualquer tipo de violência no cinema. As cenas de ação, enquanto isso, seguem por um padrão "zacksnyderiano", com muitas sequências em câmera lenta, muitas sombras e uma artificialidade geral no tom.
O roteiro de Adam Sztykiel (Rampage), Rory Haines (O Mauritano) e Sohrab Noshirvani (também de O Mauritano) é a cereja do bolo dessa percepção geral. Assim como o visual e os personagens parecem apenas um mexidão de tudo que já vimos, a história não tem nada a dizer ou a mostrar. É um amontoado de lugares-comuns, sem força ou exatidão, fadado à vergonha.
Algumas das falas proferidas por Dwayne Johnson causam constrangimento. Pierce Brosnan, um dos atores mais subestimados de Hollywood, é jogado às traças com um personagem que é um Doutor Estranho de novo visual, sem qualquer profundidade narrativa. O roteiro ainda tem a história de uma mãe com o filho adolescente que de nada serve. Não precisa estar ali.
A cena pós-crédito é o que mais empolga no filme todo. E isso comprova como o nascimento da ideia de Adão Negro começou errado: não era para ser um filme solo de um vilão, mas algo tratado de outra forma, com outros personagens e enfrentamentos. O resultado é triste e causa mais preocupação com o que será, exatamente, o futuro da DC nessa falta de direção no cinema.
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