Ao analisar todas as variantes da equação de Acqua Movie, fica claro que esta nova produção de Lírio Ferreira tinha tudo para ser um dos filmaços do ano. Afinal, o longa-metragem é continuação direta do cult Árido Movie, até mesmo com o retorno do Homem do Tempo (Guilherme Weber, rápida participação). Além disso, a fotografia e elenco são acima da média.
No entanto, ainda assim, Acqua Movie não consegue passar de um filme assistível. O longa-metragem se concentra, principalmente, na história de Cícero (Antonio Haddad Aguerre), garoto que mora com o pai (Weber) enquanto a mãe (Alessandra Negrini) documenta a vida de indígenas no Amazonas. No entanto, o pai morre e a matriarca precisa voltar correndo pra casa.
É aí que se inicia a história de Acqua Movie, ao melhor estilo dos "filmes de estrada". Afinal, Cícero e a mãe empreendem uma viagem de carro até a terra-natal do pai para encontrar com a família (Augusto Madeira, principalmente, como o Tio Múcio) e despejar as cinzas do Homem do Tempo ao lado dos seus. No entanto, surgem várias subtramas a partir dessa viagem de carro.
Algumas delas são interessantes, como é o caso da questão indígena atrelada ao surgimento de novas cidades e polos econômicos -- Madeira, aliás, interpreta um vilão clássico do tipo. Há, também, a estranheza das relações familiares, com alguns bons momentos em cena em que esse estranhamento é potencializado pela direção criativa e também imagética de Ferreira.
Negrini é a alma do filme, sabendo dar camadas à sua personagem com destreza -- as modulações de emoção são o ponto alto. O jovem Antonio Haddad Aguerre não consegue ter o mesmo controle interpretativo, é claro, mas ainda assim se sai bem como o rapaz enlutado e que não quer transparecer isso. Uma cena envolvendo um caco de vidro é particularmente forte.
E tudo isso, ainda por cima, com uma fotografia estonteante de Gustavo Hadba (de Entre Nós).
No entanto, apesar disso tudo, falta. Falta profundidade para essas questões levantadas, como o luto, o massacre indígena, o coronelismo, as relações familiares. Por mais que haja bons lampejos desses assuntos ao longo da projeção, nada é realmente aprofundado. Até mesmo a relação entre mãe e filho, que é o grande destaque de Acqua Movie, é pouco desenvolvida.
Ao final do longa-metragem, fica a sensação de potencial desperdiçado. Havia uma boa fotografia, um elenco excepcional, uma história interessante, a continuação de um ótimo filme... Mas, infelizmente, é até difícil falar sobre o que exatamente é o longa-metragem, tamanha a dispersão de temas. Faltou foco. Dessa forma, é apenas mais um filme lançado este ano.
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