Diane (Mary Kay Place) é uma viúva, já na casa dos setenta anos, cuja vida é totalmente ditada pela necessidade dos outros. Ela passa seus dias oferecendo comida para moradores de rua, visitando a prima com câncer no hospital, dando carona para a tia idosa e procurando seu filho, viciado em drogas, pelas ruas de sua pequena cidade. Mas conforme ela vai perdendo essas peças em sua existência, ela começa a se ver obrigada a olhar para si própria e, enfim, encontrar necessidades e identidade que fugia de si.
Esta é a trama de A Vida de Diane, longa-metragem dirigido por Kent Jones (Hitchcock/Truffaut) e produzido por Martin Scorsese. Esta é a primeira vez que o cineasta sai do universo dos documentários para se aventurar na ficção e o resultado, infelizmente, é apenas mediano. Apesar da interessante premissa e das boas atuações, há algo de estranho no filme que é difícil de ultrapassar. Jones acata alguns experimentalismos e brincadeiras de roteiro que, ao invés de inovar, confundem tudo.
A jornada de Diane é extremamente real, pé no chão. É uma mulher preocupada com todos que sofre com a doença da prima, tão querida, e principalmente com o vício de seu único filho -- num arco narrativo que lembra muito os recentes filmes Beautiful Boy e O Retorno de Ben. O espectador sente a dor da personagem. Ainda mais com a atuação de ponta de Mary Kay Place (Garota, Interrompida), Jake Lacy (Rampage) e da sempre excepcional Estelle Parsons (Bonnie e Clyde). Estão ótimos em cena, juntos.
No entanto, esse bom realismo, ancorado pelas atuações certeiras e pela interessante premissa, acaba por ir água abaixo em alguns experimentalismos e avanços temporais da narrativa que Jones realiza. Pedaços de sonhos, mortes que vão acontecendo do nada e sem vínculo com o que tinha sido contado até ali. Há de se destacar a boa ideia do diretor/roteirista de mostrar como as gerações anteriores vão partindo e algumas pessoas começam a ficar, realmente, sozinhas. Mas faltou elo entre partes do filme.
Afinal, você está acostumado com a narrativa tomando certo rumo e isso, de certa maneira, contamina o mergulho no filme. Quando há uma quebra no sequenciamento dos acontecimentos, há uma quebra na relação que a história firma com o espectador. É pouco tempo, infelizmente, para se acostumar com as novidades na tela e, com isso, o espectador acaba sendo forçado a se distanciar do que é contado. O vínculo criado com a jornada de Diane se esvai. O filme termina numa nota baixa, longe do que foi visto.
Há, por exemplo, uma cena envolvendo drogas num sonho que não faz sentido algum. Só tira as pessoas do filme. Há, também, uma cena da protagonista bêbada que é mal dirigida. Algumas coisas, ali, não fazem sentido. E, nessa cena, Place não está bem.
Mas, ainda assim, há de se destacar o bom arco narrativo dado à protagonista, assim como algumas cenas de fato emocionantes -- uma envolvendo Parsons e Place é emotiva ao extremo; ambas mereciam mais tempo em tela juntas. A Vida de Diane é um filme com boas ideias, boa vontade. Mas que, infelizmente, tropeçou nas suas conclusões. Se Jones tivesse mantido os pés no chão, sem tentar experimentalismos vazios, teria tido um filme bem mais coeso, marcante e correto. Pena que se perdeu.
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