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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'A Última Loucura de Claire Darling' é filme morno sobre velhice


É o primeiro dia de verão na pequena aldeia de l'Oise, na França, e Claire (Catherine Deneuve) acorda persuadida a viver seu último dia. Ela então decide esvaziar sua casa e começa a vender tudo sem fazer qualquer distinção, indo desde lâmpadas Tiffany até bonecos de corda de coleção. Os objetos que amou durante sua vida trágica e extravagante. Com este último fato louco, Marie, sua filha, volta para casa após 20 anos distante. Esta é a trama de A Última Loucura de Claire Darling, estreia desta quinta, 6.

O filme começa bem. Uma menininha assustada em quarto, repleto de bonecos de aspecto maligno, e uma mãe que não parece se importar muito. Logo em seguida, corte. E já vemos Deneuve, a tal mãe que pouco se importa com a filha, tomando uma decisão que surpreende a vizinhança de vender todas suas bugigangas -- as mesmas que ela não queria se livrar pra filha ter um sono tranquilo. E também o espectador se surpreende com essa decisão, que não parece lógica mesmo naqueles iniciais minutos.

Deneuve (O Reencontro), uma das grandes damas do cinema francês, empresta uma atuação de ponta como sempre. Esse desenrolar inicial, que parece tão banal, ganha um contorno mais dramático com ela em cena. Vê-se, claramente, que a personagem não está sã. Nem precisaria do título em português explicitando essa loucura. Os olhares da atriz não deixam margem para dúvida. Os gestos, os toques, os arfares. Tudo funciona e parece que o público há de ver um trabalho primoroso de atuação e direção, juntos.

No entanto, logo em seguida, a diretora Julie Bertuccelli (A Árvore) começa a tomar uma série de decisões convencionais na condução que esfriam o filme. Deneuve não sai do estado catártico inicial e começa a não ter muito o que fazer em cena -- por mais que se esforce. E rapidamente entra na equação a filha Marie, interpretada pela fraca Chiara Mastroianni (Frango com Ameixas), que parece estar sempre no mesmo papel, seja no filme que for. Aqui, há pouca vitalidade, mesmo a personagem tendo mais força na tela.

Dessa maneira, fica uma situação desencontrada. Aquele desconforto inicial com o que se desenrola na tela, da venda de todos seus pertences por uma possível morte, não evolui, senão em pontuais flashbacks que vão mostrando detalhes lineares e óbvios da trama. Nada surpreende, nada vai além. A força interpretativa que a diretora deposita na personagem de Mastroianni deveria estar, unicamente, depositada em Deneuve. São escolhas ruins de direção e que acabam evidenciando fragilidades brutais desse longa.

A Última Loucura de Claire Darling, claro, faz bem ao tratar sobre os efeitos da vida passada sobre o presente. Principalmente quando estamos na velhice, já carregados de experiências. No entanto, é algo muito forte para ficar tão fraco como aqui neste filme. Várias coisas não são resolvidas, nem há deixas para o espectador refletir -- como as cartas que a filha encontra, a importância dos bonecos para a mãe, e coisas do tipo.

O final, então... Difícil explicar, entender. É algo jogado, tentando apenas criar uma emoção narrativa tal qual Peixe Grande, de Tim Burton. Mas não funciona em absolutamente nada. Ao analisar os mais de 90 minutos de produção, para que nada evoluiu, pouco aconteceu. Se a diretora tivesse tomado decisões mais espertas, juntamente com o roteiro escrito por ela própria, por Marion Doussot e por Sophie Fillières, o filme poderia ter trilhado um bom caminho. Dessa forma, é só morno.

 

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