A comédia de erros é, talvez, uma das mais funcionais na arte do riso. Aquela que mais causa diversão. Afinal, ao trazer a tragédia para um contexto bem humorado, é difícil não se relacionar e pensar naquelas coincidências do destino que, por vezes, geraram confusões curiosas, bizarras ou até mesmo constrangedoras. É uma arte. E é justamente nesse estilo que embarca a comédia uruguaia A Teoria dos Vidros Quebrados, estreia dos cinemas da última quinta-feira, 18.
Dirigido por Diego Fernández (Rincón de Darwin), que também assina o roteiro ao lado de Rodolfo Santullo, o longa-metragem conta a história de Cláudio (Martín Slipak), um azarado corretor de seguros que é promovido e enviado para uma cidadezinha fronteiriça em que nada acontece. Nada? Não é bem assim: logo que ele chega por lá, começa a enfrentar uma série de incêndios criminais justamente de carros segurados por sua empresa. Ele deve investigar.
A partir daí, Fernández mergulha de cara nessa comédia de erros em que a investigação de Claudio vai caminhando por caminhos tortuosos conforme o número de carros cresce e, no seu escritório, o chefe o pressiona para que encontre respostas. É realmente divertido que o espectador saiba o caminho da investigação enquanto as coisas vão acontecendo sem rumo na tela -- e, mesmo assim, garantindo uma certa surpresa no final com algumas novas revelações.
Nesse contexto, A Teoria dos Vidros Quebrados mostra como o cinema latino-americano (e inclusive o cinema uruguaio, geralmente tão esquecido) consegue navegar em diferentes formatos de histórias, sempre em uma ótica latina que foge do óbvio. A tensão da chegada do forasteiro, representada pelo corretor de seguros, é um dos pontos altos da película, com os personagens se estranhando ao mesmo tempo em que somos apresentados à tipos complexos.
No entanto, apesar desses acertos, A Teoria dos Vidros Quebrados falha em ser interessante -- ele continua sendo a história de um corretor de seguros em uma cidade minúscula. Isso poderia ser compensado por um humor firme e que vai se renovando, mas isso não acontece. Fernández fica sempre na mesma piada, preso em um humor que se repete e não inova. O filme perde o frescor inicial, principalmente com um desenvolvimento que não sabe para qual lado correr.
Fica, de lição, como o cinema uruguaio vive e resiste, com boas produções, e que comédias de erros são as mais complexas. Não dá para jogar uma ideia e ficar na mesma coisa o tempo todo. Veja os filmes dos Coen, por exemplo. O Grande Lebowski começa com o enrosco do tapete, mas logo ganha escala. Aqui, isso nunca acontece, ficando sempre no plano e sem conquistar espaço no que há de mais importante em um filme desse tipo: nosso coração e o riso incessante. Pena.
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