Quem já leu O Livro dos Espelhos, sabe que a narrativa, por mais que não seja nada vibrante, brinca bastante com a noção de verdade do leitor. São várias percepções sobre uma mesma história: o assassinato de um ex-investigador da polícia que, agora, sofre de Mal de Alzheimer.
A graça no livro é não poder confiar no que está sendo contado por Roy, o tal protagonista, já que sua memória não é das melhores -- ainda que esteja passando por melhorias após passar por um procedimento novo. Agora, como colocar isso na tela dos cinemas? É o grande desafio.
Em A Teia, longa-metragem que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 2, a narrativa do livro de E. O. Chirovici é traduzida pelo cineasta e roteirista estreante Adam Cooper da maneira mais preguiçosa possível. Ao invés de brincar com a fragmentação da memória e das lembranças que estão voltando aos poucos, o filme acaba seguindo por um linearidade bem preguiçosa.
Aqui, Roy (interpretado por um Russell Crowe cansado) é o protagonista absoluto enquanto outros personagens envolvidos no tal crime (a morte de um professor universitário) apenas orbitam essa trama principal. Nada de muito novo, como poderia acontecer a partir da história.
Apesar de não atingir todo seu potencial, é engraçado notar como talvez tenha sido o caminho mais calmo e tranquilo a seguir. Afinal, conforme os 110 minutos do longa vão passando, Crowe (Gladiador) se mostra como o único ator em cena com algum comprometimento — ainda que esteja em marcha automática há tempos. Karen Gillan (Guardiões da Galáxia) está tenebrosa como uma das envolvidas. Sua atuação é mecânica, sem vida, apenas soltando frases à esmo.
Além disso, apostando em simplificar a trama ao máximo, A Teia acaba se tornando um suspense típico das madrugadas da TV aberta -- sem sobressaltos, apenas com um mistério no ar que vai conseguir deixar o espectador acordado. Em nenhum momento o filme é brilhante como poderia ser, mas também nunca é um fiasco. Fica sempre em um caminho possível.
O que poderia, no fim das contas, é brincar mais com as idas e voltas da memória do personagem. No começo, Roy precisa andar com um papel no próprio bolso. Mas, aos poucos, ele parece se lembrar melhor de tudo que está acontecendo. Obviamente deve ser efeito do tal procedimento milagroso, mas falta ao diretor mais habilidade em mostrar como essa melhora esta acontecendo — fica algo muito jogado, sem grandes explicações ou entendimentos.
No final das contas, A Teia, dentro de sua incapacidade de entregar um suspense que mexa com as estruturas do gênero, como o livro tenta fazer, acerta como um filme para fãs do gênero. Além desses ecos dos Amnésia e Caminhos da Memória, o longa-metragem traz um clima de histórias de suspense do Supercine, aquele sessão de madrugada da TV Globo, como O Mistério da Libélula, 8mm: Oito Milímetros, Por um Triz e outros filmes similares. Nada de novo no front.
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