OBS.: Curiosamente, o filme conta com dois nomes no Brasil. No Prime Video, é tratado como 'a Sala'. No mercado de distribuição e nas redes sociais é tratado como 'O Quarto dos Desejos'.
Pense numa mistura entre Stephen King e Black Mirror. A mistura da bizarrice tétrica do escritor de It: A Coisa com o temor tecnológico da série da Netflix. O resultado disso poderia ser A Sala aka O Quarto dos Desejos, filme de horror americano que chegou ao catálogo da Amazon Prime Video. Pouco usual, o longa-metragem brinca com possibilidades e problemas humanos.
Na trama, o casal Kate (Olga Kurylenko) e Matt (Kevin Janssens) se mudam para um casa nova. Linda, afastada da sociedade, imponente. Depois de um tempo ali, porém, os dois descobrem uma sala escondida, escura, sem explicações. Rapidamente, porém, eles entendem a funcionalidade da sala: realizam desejos. Qualquer coisa que eles quiserem, a sala materializa.
E aí é só festa. Materializam dinheiro, quadros, móveis, bebida, roupa. Tudo que pensam, a sala provê. As coisas só saem do controle quando Kate e Matt decidem desejar um filho e a sala o torna real. Como lidar com uma criança irreal? É uma ficção? Quais limitações? Filho de quem?
São essas questões que norteiam o filme de horror, comandado Christian Volckman (do interessante Renaissance). Com calma e tranquilidade, transitando entre a ficção científica, o horror e o suspense, o longa-metragem vai surpreendendo com algumas decisões, provocando o espectador e criando uma tensão crescente. São interessantes as decisões de roteiro.
O maior destaque, porém, fica no mergulho ao caos, paranoia e esfacelamento da sanidade dos protagonistas. Até que ponto ter tudo que quer é saudável? Quais os limites? E os perigos?
No final, A Sala dá uma guinada. O tom sombrio ganha cores mais intensas, a ficção científica ganha um pouco mais de força e o suspense se torna menos sutil. O roteiro, enquanto isso, aposta em algumas reviravoltas -- umas funcionam, outras são batidas. É capaz que, neste ponto, o filme perca a atenção de alguns espectadores. A guinada na trama pode soar artificial.
No entanto, há de se destacar a sagacidade do filme nos minutos finais. Além de uma interessante sequência de perseguição/paranoia, o diretor Christian Volckman encerra o longa no momento exata. Deixa em aberto. Mas não é aquele final que deixa pontas soltas. Na verdade, traz questionamentos que vão além de uma simples conclusão de um longa-metragem.
A Sala, assim, tem seus defeitos -- em alguns momentos aposta em clichês, em outros conta com reviravoltas óbvias, em vários repete situações. Mas a boa ideia do roteiro, junto com uma execução interessante, fazem com que o longa-metragem seja um dos mais interessante do gênero de horror lançados, por enquanto, neste ano. Afinal, é um filme que transcende a trama.
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