Membro de uma importante companhia de Teatro, Teo (Tutty Mendes) enfrenta os ossos do ofício da profissão de ator. Ele foi escalado para encenar a peça Entre Quatro Paredes, de Sartre, mas foi removido do elenco quando o diretor resolveu usar um critério duvidoso para montá-la: a popularidade dos atores nas redes. Sentindo que seus talentos foram desmerecidos, Teo decide usar as plataformas virtuais para manipular seus colegas de trabalho, mas a brincadeira acaba tendo consequências gravíssimas.
Esta é a premissa do bom filme A Quarta Parede. Dirigido por Hudson Senna (Véspera), o longa-metragem conta com um elenco quase que inteiramente formado por alunos da Escola de Atores Wolf Maya -- apenas dois são convidados de fora. E é interessante como isso, logo de cara, já faz nascer um preconceito bobo de que, por serem alunos, a qualidade do filme pode ser estudantil. E não é nada disso. O longa-metragem, que entra na programação do Projeta às 7, da Cinemark, traz boas reflexões sobre arte e internet.
Afinal, a trama, escrita por Bruno Autran, não fica na superficialidade ao abordar esses temas. Tudo é provocado ao máximo na tela, principalmente num arco da personagem de Bruna Massarelli -- que está ótima em seu papel. A ebulição juvenil, presente na maioria das relações apresentadas, também traz um tempero diferenciado aos temas centrais. Sexualidade, feminismo, empoderamento, bullying. São várias as temáticas secundárias que ornam com a narrativa principal e, assim, enriquecem todo o filme.
No entanto, o foco mesmo a relação entre internet e arte -- ainda mais com o formato que é usado para contar a história. Essa é uma disputa que já está sendo evidenciada há algum tempo em várias frentes. No cinema, muito é discutido sobre o papel do celular na exibição de filmes, já que pessoas assistem cada vez mais pelos celulares. Os filmes de sucesso se sustentam pelo barulho nas redes. Música, a mesma coisa. E no teatro? Será que, em determinado momento, as coisas serão decididas por influência em rede?
É uma discussão pertinente e que avança a trama. Por mais que o roteiro acabe se rendendo a alguns clichês desnecessários, e a história se arraste consideravelmente no segundo ato, o resultado final é interessante e positivo. Ainda que canse aqui e ali, A Quarta Parede instiga a audiência a pensar, refletir e falar sobre arte -- no caso específico, aqui, do teatro. É algo importante e relevante a ser discutido no País todo. Ainda mais em um momento em que a cultura entra em xeque em várias frentes.
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