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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: ‘A Pequena Sereia’ é filme genérico, mas que pode encantar


Difícil assistir ao novo A Pequena Sereia, que estreia nesta quinta-feira, 25, sem sentir uma pontada de desânimo. Afinal, nos últimos anos, quase nenhum live-action da Disney realmente funcionou -- O Rei Leão é mediano, assim como A Bela e a Fera; Mulan é o mais fraco de todos; e só Aladdin é realmente empolgante. Falta ousadia, empolgação, criatividade, como já falamos por aqui. Por isso, o novo longa-metragem traz uma desconfiança quase que natural.


Dirigido por Rob Marshall, de Chicago e O Retorno de Mary Poppins, o longa segue o caminho mais seguro dessas adaptações da Disney. Vai no óbvio. Não tenta mudar a história como Mulan e Malévola e segue pelo caminho de trazer a essência (e quase tudo) da animação original, lançada em 1989. Assim, lembra mais O Rei Leão e A Bela e a Fera – filmes bem esquecíveis.


A história é a de sempre: Ariel (Halle Bailey) é uma jovem sereia que faz um acordo com Úrsula (Melissa McCarthy), uma bruxa do mar, para trocar sua bela voz por pernas humanas para que possa descobrir o mundo acima da água e impressionar o príncipe Eric (Jonah Hauer-King). Ainda temos Sebastião (Daveed Diggs), Linguado (Jacob Tremblay) e Sabidão (Awkwafina).


Em resumo, é um filme agradável de assistir. As músicas são bem coreografadas por Marshall, especialista no assunto, ainda que os efeitos especiais sejam o calcanhar de Aquiles da produção – depois de tudo que James Cameron fez em Avatar: O Caminho da Água, um fundo do mar sem qualquer naturalidade soa como algo angustiante, ultrapassado. As caudas das irmãs de Ariel parecem peixe de mercado com corante: tudo ali é artificialmente exagerado.

No entanto, de novo, as músicas funcionam. Sejam embaixo d’água ou na superfície, elas são emocionantes e divertidas. Kiss the Girl continua sendo a mais engraçadinha, agora com uma breve atualização da letra por Lin-Manuel Miranda, enquanto Under the Sea só não tira a coroa por ficar muito dependente dos efeitos -- que, novamente, estão bem aquém do esperado. Já Part of Your World é aquela que comove, abala, faz as lágrimas correrem, tal qual na animação.

E elas funcionam não apenas pela habilidade de Marshall, mas também pelo bom elenco. Todos estão bem: desde a vilã inesperada de McCarthy (Missão Madrinha de Casamento), passando por um canastrão Javier Bardem como Tritão (Onde os Fracos Não Têm Vez) e, o grande destaque, Halle Bailey. Ela, que foi tão atacada nas redes sociais, sofrendo uma onda de racismo e ódio, mostra que merece o papel: sua voz é angelical e ela é a Pequena Sereia. Sem tirar, nem pôr.


Além disso, vale destacar uma diferença fundamental entre a animação de 1989 com o filme de agora: o romance entre Ariel e Eric é mais profundo. Enquanto a animação se segura em uma fagulha, o live-action tem uma trama muito mais estruturada e atenta ao que vivemos hoje. Ela não se apaixona sem querer: há uma personalidade em Eric que, em combinação com a personalidade de Ariel, gera uma paixão que não pode ser descartada. É algo mais verdadeiro.


E aí chegamos nesta pergunta central. Conforme o filme avançava, mesmo com os bons momentos, não parava de me perguntar: pra que? A maioria das cenas é um reflexo absoluto do que já vimos na animação. Tal qual A Bela e a Fera e O Rei Leão, falta criatividade. Também não existem cenas que, com atores reais, se tornam mais intensas ou divertidas – o que faz de Aladdin, por exemplo, um filme tão virtuoso, colorido e divertido e justificável para existir.


A Pequena Sereia, assim, é quase uma cópia, quadro a quadro, do que já vimos antes. É como aqueles remakes americanos de filmes europeus, asiáticos ou latinos -- não se justificam, a não ser para tentar ganhar mais dinheiro. Colocar Lin-Manuel Miranda para trocar dois versos e fazer uma música não justifica. Nem sequer uma boa atriz no papel. A mesmice virou lugar-comum para a Disney, que está vivendo de passado e não encontra lugar em um futuro criativo.

 

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