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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'A Música do Tempo' faz passeio pelo cancioneiro antigo


A música brasileira é de uma riqueza sem fim. O Brasil, que parece abrigar vários países dentro de si, possui influências e origens diversas que fazem a cultura adquirir inúmeras facetas. Agora, o documentário A Música do Tempo, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 12, busca apresentar alguns dos ritmos e gêneros musicais que ajudaram na formação plural da cultura brasileira a partir de cancioneiros populares e medievais de Portugal e indo até religião do Tambor de Mina do Maranhão.

O longa-metragem, que é produzido e idealizado pela equipe do Centro de Artes UFF, se propõe a atuar em dois segmentos: o primeiro são os depoimentos que evocam memórias e emoções sobre o centro de estudos de músicas antigas da Universidade, mostrando a importância do núcleo para a compreensão dessa música medieval que, de alguma forma, ajudou a moldar a cultura musical brasileira. Em seguida, o filme também se propõe a exibir essas músicas em execuções de próprios estudiosos da UFF.

A Música do Tempo, assim, é um filme que não fica parado em entrevistas e imagens de arquivo. Há algo além que se aprofunda em ritmos, sons e instrumentos, deixando claro para o espectador como essa música era feita e, hoje, se transformou e é executada.

O diretor João Velho sabe como orquestrar esses dois segmentos para fazer com que o longa-metragem se torne coeso e interessante numa só medida. Depoimentos e músicas se cruzam a todo momento, ao longo de seus quase 90 minutos, ampliando o leque de informações fornecido. Além disso, conforme as músicas são executadas na tela, de maneira brilhante, há informações escritas que complementam as interpretações e a história que cerca aquela canção. Nada aqui é vazio de significados.

No entanto, há alguns outros pontos que precisam ser considerados. Primeiro que há, claramente, uma falta de recursos. Alguns artifícios são usados, como o preto-e-branco em cenas de entrevistas, para mascarar uma possível falta de padronização na qualidade das imagens. Além disso, algumas captações de som estão com problemas -- ainda que, durante as execuções das músicas, tudo corra de maneira impecável na tela.

Além disso, há um aspecto pessoal do documentário que torna a experiência de assisti-lo um pouco estranha. Há uma certa melancolia envolvendo os músicos da UFF, por conta das perspectivas futuras do grupo. É algo que, de alguma maneira, não encaixa bem com o restante do longa-metragem. Há peças mal encaixadas que fazem com que o filme, de certa maneira, possua arestas. Ao final, fica a sensação de que coisas ficaram de fora para que esses depoimentos pessoais viessem à tona. É estranho.

Mas não dá para deixar de elogiar a iniciativa da UFF de fazer esse registro, tão importante para o cancioneiro popular antigo. De alguma forma, afinal, estas músicas medievais portuguesas ajudaram a moldar os caminhos e as influências da cultura brasileira, tão misturada com a europeia e a africana. Entender esse passado, e vê-lo na tela, é uma oportunidade única para quem ama música e a quer compreendê-la em seus mínimos detalhes. A Música do Tempo é isso. Passeio pela música, tempo e memória.

 

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