Exibido e premiado na Mostra de Cinema de Tiradentes, A Mesma Parte de um Homem fala sobre relações. Não só as relações humanas, mas também as sociais – sejam as etiquetas ou, principalmente, as relações de poder de um homem sobre uma mulher. Social e sexualmente.
A partir disso, acompanhamos a história de Renata, uma mulher que vive com medo, demonstrando isso em suas falas, atitudes e olhares. É um medo com o que há dentro de casa, com o que pode acontecer dentro do quarto, na sala, na cozinha. O mundo é uma ameaça.
A coisa muda de figura, porém, quando o marido some. Está morto? Neste ponto, Renata passa a temer pelo que há do lado de fora, pelo exterior. Até isso se transformar com a chegada de um estranho na sua vida e na vida da filha adolescente, que compartilha, em partes, esse temor.
Dirigido por Ana Johann (O Que Nos Olha), o longa-metragem acerta ao falar sobre essas relações, os medos da mulher e na forma que constrói esse cenário patriarcal, de dominação masculina, e com reflexões pertinentes sobre a figura da mulher na sociedade brasileira.
Fica apenas a dúvida sobre o exagero nas atuações, com muitas caras e bocas, em uma trama que deveria prezar mais pelo introspectivo. Clarissa Kiste, intérprete de Renata, é o principal Calcanhar de Aquiles. É uma excelente atriz, mas aqui exagera na fisicalidade da personagem.
No final, ficam as boas lições sobre Johann tem a dizer sobre essas relações sociais e sexuais que povoam o Brasil -- ainda que com alguns recursos batidos e ultrapassados. Apesar das atuações desencaixadas, A Mesma Parte de um Homem provoca como deveria.
Comments